Da Costa e Silva |
Saudade
[Da Costa e Silva] Saudade - olhar de minha mãe rezando
e o pranto lento deslizando em fio
saudade amor da minha terra... o rio
cantigas de águas claras soluçando.
Noites de junho. O caboré com frio,
ao luar, sobre o arvoredo, piando, piando...
e à noite as folhas lívidas cantando
a saudade infeliz de um sol de estio.
Saudade - asa de dor do pensamento
gemidos vãos de canaviais ao vento...
Ai, mortalhas de neve sobre a serra.
Saudade - o Parnaíba - velho monge
as barbas brancas alongando... e ao longe
o mugido dos bois da minha terra...
[In Sangue, 1908]
Paulinho Moska e Chico César matando a saudade |
Saudade
[Chico César / Paulinho Moska]
Saudade a lua brilha na lagoa
Saudade a luz que sobra da pessoa
Saudade igual farol engana o mar
Imita o sol
Saudade sal e dor que o vento traz
Saudade o som do tempo que ressoa
Saudade o céu cinzento a garôa
Saudade desigual
Nunca termina no final
Saudade eterno filme em cartaz
A casa da saudade é o vazio
O acaso da saudade fogo frio
Quem foge da saudade
Preso por um fio
Se afoga em outras águas
Mas do mesmo rio.
[In CD Pouco, 2010]
Comentários
Não é de fora que a nave vem
É de dentro do peito que a nave sai
É de dentro da gente que a nau inaudita
Habita, repousa, amor e hidrogênio
Silêncio, saudade, soluço, selênio
A nau permanece mesmo quando vai
Secreta se curva, dá a gota, se agita
Se eleva no ar, resplandece e cai
A nave que é mãe
que é filho e é pai
É tudo e é nada
o povo e ninguém
Não é de fora que a nave vem
É de dentro do peito que a nave sai
Não é de fora que a nave vem
É de dentro do peito que a nave sai
Respirar, navegar é coisíssima igual
O ar que ri é o fogo da nau
No vale profundo que geme em nós
Reside o casulo do cavalo alado
Na rainha-mãe ou no pobre coitado
Ali se espelha a centelha do gás
Se é moça ou rapaz, ancião ou criança
A chama não cansa de dançar a dança
A nave que é mãe (A nave que é mãe)
que é filho e é pai (que é filho e é pai)
É tudo e é nada (É tudo e é nada)
o povo e ninguém
Não é de fora que a nave vem
É de dentro do peito que a nave sai
Não é de fora que a nave vem
É de dentro do peito que a nave sai
Não é de fora que a nave vem
É de dentro do peito que a nave sai
Não é de fora que a nave vem
É de dentro do peito que a nave sai
"Por que cargas d'água você acha que tem o direito de afogar tudo aquilo que eu sinto em meu peito? Você só vai ter o respeito que quer, na realidade, quando você souber respeitar a minha vontade, meu pai! Vou-me embora, vou partir sem brigar, já escolhi o meu sapato, que não vai mais me apertar!"