H. DOBAL, LEITOR DE DA COSTA E SILVA: representação poética e desleitura [Parte01]


__________Da Costa e Silva

H. DOBAL, LEITOR DE DA COSTA E SILVA:
representação poética e desleitura



por Wanderson Lima



Nota prévia em resposta a Cunha e Silva Filho

Há quase uma década escrevi um pequeno texto sobre Da Costa e Silva intitulado “Mestres do passado?” (Amálgama, 2003, Teresina). Lembro que, na época, tinha uma agenda de pesquisa sobre o poeta amarantino e pretendia escrever um livro sobre o autor, em parceria com Ranieri Ribas. Infelizmente, acabei mudando de rumo (assim como meu amigo Ribas) e o projeto não vingou. Das anotações, produzi uns dois textos (um publicado nos “Cadernos de Teresina” e outro no prelo) e deixei uns dois inacabados, um dos quais tive o ensejo de retomar estes dias.

Pouco me vejo naquele texto de 2003. E não porque discorde muito do que ali vai escrito – ainda considero Da Costa e Silva mal estudado, e ainda acho que as intuições de Oswaldino Marques merecem um desenvolvimento. A questão da não-identificação com aquele texto é que minha trajetória intelectual sofreu desvios. No mestrado, escrevi sobre outro grande nascido no Piauí, H. Dobal. Atualmente, no doutorado, ocupo-me com Jorge Luis Borges. Acima disso, há uns 5 anos meu interesse verdadeiro é o cinema. Meu último livro, “Reencantamento do mundo”, escrito em parceria com Alfredo Werney, é só sobre cinema. Minha coluna no Jornal Diário do Povo quase nunca trata de literatura. Dentre meus últimos artigos, publicados em revista ou como capítulos de livro, nem a metade versa sobre literatura.

Eis que naquele texto de 2003, escrevi umas 4 ou 5 linhas sobre “Da Costa e Silva: uma leitura da saudade” que fizeram seu autor, Cunha e Silva Filho, dar uma lição de incivilidade inconciliável com sua formação e sua idade. Para quem tem algum interesse, meu texto se encontra no blog de Adriano Lobão Aragão: “Ágora da Taba”, onde se vem arquivando os números da revista Amálgama (http://adrianolobao.blogspot.com/).

Se Cunha e Silva Filho tivesse a mínima base filosófica que se deve esperar de um crítico literário, teria percebido que minha crítica (sempre à obra dele, jamais à sua pessoa) à tese de base dele se funda em um argumento nominalista. Critiquei sua crença no poder do conceito, como se este fosse realidade (res) e não meras palavras (voces). Não basta “catologar”. Classificar não é entender. Percebendo isto, seria mais fácil a ele contrargumentar com dignidade, ou demonstrando a vialibidade filosófica do realismo lógico ou provando que não cai no fetichismo classicatório. Ao invés disso, Cunha e Silva Filho recorreu à grosseria e à muleta da autoridade conquistada (supõe ele) pelas amizades que tem. A capacidade intelectual ... bem, essa ficou em segundo plano. Foi fácil, assim, constrir uma auto-imagem de pesquisador sério, maduro e original em detrimento da minha imagem, um verdadeiro “satanás do fato azul”, como dizem em minha Valença – lembrando, aqui, toda a polissemia do termo “fato”. O mais incrível foi me acusar de arrogante e intelectualista em textos que, de uma ponta a outra, porejam arrogância e intelectualismo (ou pseudo-intelectualismo, dependendo do julgamento). O pior é que este circo maniqueísta foi montado sem base empírica minimamente suficiente. Cunha e Silva Filho, pelo jeito, partilha do “não li e não gostei”, pecado mortal para um intelectual sério.

Além da autoritadade auto-proclamada, outra arma do crítico foi a pressuposição equívoca. Uma recorrente – não foram poucas! – foi defender-se sem ser acusado. Por exemplo, dizer que sua pesquisa foi séria, profunda e levou 3 anos. Ora, nada no meu texto (melhor: nas minhas 4 linhas) põe em questionamento a seriedade do trabalho ou do autor. Aliás, se eu considerasse o trabalho não sério e, ainda assim, o citasse, então também eu não seria sério. Também não nego em meu texto que Cunha e Silva Filho não tenha citado Oswaldino Marques; disse, e contínuo a dizer, que nem ele, nem eu nem ninguém que eu tenha lido explorou a fundo a intuição central texto oswaldino: a de Da Costa e Silva como nosso primeiro poeta impressionista.

Me debrucei com seriedade sobre o calhamaço de Hans-Georg Gadamer – o imprescindível “Verdade e Método”, que inspirou a hermenêutica literária de Robert Jauss, a chamada estética da recepção – para reconhecer a verdade contida no clichê segundo o qual não se pode analisar o passado sem a interferência do presente. No entanto, esta verdade não chancela os anacronismo deliberados – a não ser, claro, que isso constitua um jogo consciente no plano da ficção, como propõe Jorge Luis Borges em “Pierre Menard, autor de Quijote”. Apontar , em “À margem de um pergaminho”, uma antecipação dos procedimentos de Oswald de Andrade e esquecer a imensa proximidade daquele estilo com o simbolismo irônico de Jules Laforgue é, se não um anacronismo de todo inaceitável, um teleologismo que reduz a contribuição dacostiana a um preparador do espírito modernista. A mesma coisa eu diria quando se trata de considerá-lo um pré-concretista. Minha aposta é que Da Costa e Silva seja mais que isso. Esse hegelianismo que põe o modernismo como suma concretização do Espírito constitui o maior dos equívocos da historiografia literária brasileira, equívoco no qual o trabalho de Cunha e Silva Filho está inteiramente embebido, na sua tentativa de trazer à tona um Da Costa e Silva modernoso.

Por fim, em meio a tantos vitupérios ditos à minha pessoa, sou grato a dois apontamentos de Cunha e Silva Filho: minha mania de olhar além-fronteiras e meu anti-romantismo (quando se trata, fique claro, do romantismo de herança francesa, bem diferente do que se manifestou na Alemanha e na Inglaterra). Segue uma colaboração sobre Da Costa e Silva e sua apropriação em H. Dobal. Preparo, para bem breve, um estudo exclusivo sobre o poeta amarantino: uma análise do soneto “Saudade”.



[Continua...]

Comentários

Anônimo disse…
Cadê os textos do Cunha e Silva Filho que resultaram nesta resposta do Wanderson Lima de baixa voltagem?
O proprietário (Adriano Aragão) do site com certeza não vai colocar os textos para amenizar o conteúdo já tão combalido da reposta de pouca densidade do denominado doutorando. Aliás qual a nota no Capes do curso do doutorando em letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte?
Infelizmente não podemos publicar os textos do Sr. Cunha e Silva Filho sem autorização do autor. Caso nos autorize, certamente publicaremos. No momento, para acesso aos textos de Cunha e Silva Filho recomendamos a coluna Letra Viva, no site Entre-textos:
http://www.dilsonlages.com.br/coluna.asp?id=1430&idp=212

Quanto à nota no Capes do curso do doutoramento em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, francamente, não é a mim que você deve perguntar.
Anônimo disse…
É verdade. Basta ir no curriculum lattes de quem interessa!
Anônimo disse…
Estranho demais! Vi este menino de longe e não me pareceu arrogante, mas essa postura de atacar um ao outro não é nada ética em nenhum dos lados, não acham?