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editorial






Recentemente, o editor Rogério Pereira concedeu uma entrevista a Josélia Aguiar sobre os 10 anos do Rascunho. A certa altura da entrevista, ele afirma com seu senso de humor impagável: “A ignorância está entranhada na vida do Brasil. Ser ignorante é muito fácil, muito mais cômodo. Dói menos. Nossa classe média é alfabetizada, mas não lê. Ou lê para se distrair. Portanto, um bando de analfabetos. Nossos políticos, com algumas boas exceções, são todos clones do Tiririca: usam gravata Armani, terno Ermenegildo Zegna e carregam no bolso o livro de piadas do Costinha. Para tirar sarro da nossa cara, obviamente. Leitores surgem o tempo todo. Somos uma imensa minoria. Mas com bastante ânimo. Colaboradores também. O Rascunho não consegue abrigar todos que desejam colaborar com o jornal. E não pagamos um centavo pelos textos. É incrível como existem pessoas malucas”.

Compartilhamos com Rogério Pereira – e raro será o editor de veículos similares que discorde – duas certezas ali enunciadas. A primeira delas, a de que nossos leitores formam uma “imensa minoria”. No nosso caso, que não deve diferir muito do Rascunho, os leitores são basicamente escritores, pesquisadores ou escritores-pesquisadores.  à primeira vista, pode-se pensar que se trata de uma parcela ínfima dos letrados, mas não é. A Internet, na medida em que borra as fronteiras entre produtores e receptores, multiplica a cada dia a comunidade dos escritores, como comprova, entre outros fatores, a expansão da blogosfera; some-se a isso o fato de a pesquisa se expandir no Brasil como nunca, produzindo fenômenos como o aumento assombroso dos cursos de pós-graduação. Este processo de democratização é ambíguo, mas é inegável que ele nos traz o consolo de saber que nosso esforço tem uma direção certa, isto é, tem um público em potencial. E esse público – essa “imensa minoria” – chega até nós espontaneamente, é fiel (cobra inclusive se uma edição demora acima do previsto para sair) e sabe que os papéis na revista são altamente reversíveis: o leitor desta edição é autor na próxima e vice-versa.

O outro ponto da fala de Rogério que destacamos, compartilhando do seu espanto, é como existem tantas “pessoas malucas” dispostas a colaborar. O número crescente de trabalhos recebidos tem levado a equipe da dEsEnrEdoS a um misto de euforia e, se assim podemos dizer, de saudável apreensão. Não tem sido fácil ser justo na avaliação de tantos trabalhos, e para ninguém é agradável ter de deixar este ou aquele texto fora da revista. Mas, enfim, um veículo democrático, que franqueia seu espaço à crítica e à criação, que recebe com a mesma modesta satisfação colaborações de variados gêneros e diversas entonações de linguagem, deve assumir essa tarefa como um prêmio. Um prêmio que, como todo êxito da dEsEnrEdoS, deve ser creditado não a este ou àquele sujeito em particular, mas a essa imensa minoria que a constitui, independente do papel que exerça.
  
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[revista dEsEnrEdoS - ISSN 2175-3903 - ano IV - número 13 - teresina - piauí - abril maio junho de 2012]

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