ARAGÃO, Adriano Lobão. Os tempos e a forma. Poesia reunida. Teresina: Desenredos, 2017.
o poema a poesia
se enquanto há risco há esperança escondida
na tênue trama de silêncio e carícia
onde repousa palavra carente de signo
à tinta demarca em linha o ensaio
e desafia a razão delirante da lira
sem enfeite do acaso em traço sombrio
do silêncio que te veste enquanto tantos versos lia
envolvendo teu ventre como arabesco em pergaminho
mas despia a íntima linha de tua rima
estas vestes ofertadas ao itinerário da escrita
demarca o ritmo destes passos despidos
bem antes de vesti-la em invisível signo
qual o risco de escrever teu corpo
refúgio do delírio entranhado em teu ser
qual palavra esconde tua completa nudez
na tênue trama de silêncio e carícia
onde repousa palavra carente de signo
à tinta demarca em linha o ensaio
e desafia a razão delirante da lira
sem enfeite do acaso em traço sombrio
do silêncio que te veste enquanto tantos versos lia
envolvendo teu ventre como arabesco em pergaminho
mas despia a íntima linha de tua rima
estas vestes ofertadas ao itinerário da escrita
demarca o ritmo destes passos despidos
bem antes de vesti-la em invisível signo
qual o risco de escrever teu corpo
refúgio do delírio entranhado em teu ser
qual palavra esconde tua completa nudez
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e quando retorna a si a oferenda
e o que saber de teu anseio entregue ao ventre e ao seio alheio
[quando retorna a si a oferenda
[que há pouco somente sêmen seria?
e que força haveria em teu sangue que não vê as marcas
[de teu semblante impressas em um outro ser?
e como artífice tenaz empenhas o obstinado ofício
[de reinventar-se em imagem e semelhança
[na fêmea que emprenhas
[quando retorna a si a oferenda
[que há pouco somente sêmen seria?
e que força haveria em teu sangue que não vê as marcas
[de teu semblante impressas em um outro ser?
e como artífice tenaz empenhas o obstinado ofício
[de reinventar-se em imagem e semelhança
[na fêmea que emprenhas
e eis novamente em teus braços os traços que em ti afirmam
[a perpétua condição de semeador
e como impetuoso autor revisando a própria obra
[chega até si o desejo e a hora
[de descartar o esboço feito outrora
e eis que riso e mão se estendem apenas a um dos irmãos
[para que corra o risco e o destino de existir em vão
e que seja a mão que se ergue em fratricídio
[a mesma que jaz em suplício
[e ambas as duas palmas de tuas mesmas mãos
e o que saber de teu feito quando retorna a si a oferenda
[que reafirma em teu filho teu genitor?
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Adriano Lobão Aragão nasceu em Teresina, Piauí, em 1977. Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Piauí. Professor de língua portuguesa do Instituto Federal do Piauí. Em 1998, através do Concurso Novos Autores, recebeu o Prêmio Cidade de Teresina pelo livro Uns Poemas, publicado no
ano seguinte pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Em 2005 publicou Entrega a Própria Lança na Rude Batalha em que Morra. Seu livro Yone de Safo foi agraciado em 2006 com prêmio Torquato Neto instituído pela Fundação Cultural do Piauí. Publicou ainda as cinzas as palavras (2009) e, em 2012, lançou seu primeiro romance, Os intrépidos andarilhos e outras margens (Nova Aliança). Atualmente, é um dos editores da revista eletrônica dEsEnrEdoS.
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