[Adriano Lobão Aragão]
Em suas 527 páginas, a biografia Led
Zeppelin – Quando os Gigantes Caminhavam sobre a Terra (Larousse, 2009,
tradução de Elvira Serapicos), escrita por Mick Wall pretendeu trazer à tona os
diversos aspectos que permeiam a antológica e, por vezes, misteriosa história
dessa banda. É claro que, em se tratando do Led Zeppelin, seria impossível não abordar
o extremo hedonismo em que viviam fora dos palcos, mas para quem imaginar que o
livro de Wall limita-se a uma série de episódios insólitos vividos por uma
banda de rock que chegou ao limite de fama e dinheiro, é preciso acrescentar
que o autor conseguiu ir além, compondo um retrato bastante franco de seus
protagonistas, sua contribuição para a história do rock and roll e da
cultura de massa do século XX, seu profundo impacto e influência na indústria
do entretenimento, e as costumeiras polêmicas de plágio e ocultismo que
acompanharam a trajetória da banda do guitarrista Jimmy Page. A relevância,
tanto do livro quanto da banda, pode ser compreendida a partir de um depoimento
de Mick Wall: “o Zeppelin ajudou a escrever o livro de regras do rock – o
que você pode fazer: ser sempre colorido e inventivo, sempre ousando e usando
seu talento elevado à máxima potência; e o que você não pode: as drogas não são
uma ferramenta criativa, mas são uma força negativa de auto-destruição, por
isso não se deve esperar até que seja tarde demais para perceber isso”.
Ao longo do livro, percebe-se, por exemplo,
que o interesse de Jimmy pelo ocultismo revela-se um ingrediente essencial para
a alquimia musical do Led Zeppelin. E nesse ponto, o mergulho em forças ocultas
do Led é muito mais orgânico e visceral que o trabalho de bandas como Black
Sabbath e Iron Maiden, que vendiam uma imagem abertamente macabra, enquanto
Jimmy imergia sua banda em elementos simbólicos da magia e do ocultismo,
universos que, ao que parece, encara com ainda mais seriedade que sua própria
música. Talvez, para ele, sejam até a mesma coisa; embora, no final dos anos 70,
Jimmy estivesse mergulhado em heroína, à frente de uma banda marcada por uma
série de tragédias (incluindo a morte do baterista John Bohan e um grave
acidente com o vocalista Robert Plant), como se estivessem vivenciando uma
maldição, o outro lado de sua meteórica ascensão.
Para Jimmy Page, cada álbum do Led Zeppelin
deveria expressar o ponto em que estavam naquele momento. Assim, da urgência do
primeiro disco e da ambientação folk de Led Zeppelin III ao depressivo Presence
e o inconsistente In Through the out door, o livro de Mick Wall desvenda
justamente as circunstâncias que definiram a musicalidade de cada faceta da
banda, e torna-se mais interessante se a leitura for acompanhada pela audição
dos respectivos discos. Os plágios, releituras e apropriações indébitas, sua
difícil relação com críticos e jornalistas (“Nada do que fazíamos agradava”,
desabafa Page. p. 298), polêmicas que sempre acompanharam o Led Zeppelin também
foram abordados por Wall, elucidando as fontes, honestas ou não, de diversos
trabalhos, e como Jimmy Page recriava qualquer sonoridade que lhe consumisse a
atenção, da canção de Jake Holmes, “Dazed and Confused”, que até hoje é
indevidamente creditada a Page (e tida como um de seus principais hinos), a
“When the Levee Breaks” (que embora fosse creditada originalmente como uma
música de autoria do Led Zeppelin, tratava-se de uma releitura de uma antiga
canção de ‘Memphis’ Minie e ‘Kansas’ Joe McCoy), com sua monumental bateria, um
dos momentos mais grandiosos de John Bohnam, muito mais influente que em seu
tradicional solo, “Moby Dick”. Definitivamente, a originalidade do Led não
estava em suas composições, mas na intensidade com que as executavam; e
justamente por isso, é este o seu principal legado.
[Jornal Diário do Povo, coluna Toda Palavra, Teresina, 19 de fevereiro de 2013]
Comentários