Vagner Ribeiro contando história. foto: Danilo Medeiros |
No início de 2012,
juntamente com Alfredo Werney, Danilo Medeiros, Éverton Diego, Laís Romero e
Zorbba Igreja, realizamos uma entrevista com o músico Vagner Ribeiro, que
estava prestes a lançar seu primeiro CD, “O Piauí contando história”. Foi um
bate-papo bastante animado e longo, a ser publicado na íntegra na próxima
edição da revista eletrônica dEsEnrEdoS. A seguir, apresentamos um breve
fragmento dessa conversa.
Adriano Lobão Aragão – Mas e aí, o Piauí tá carregado de que mesmo? O
que é que o Piauí tem?
Vagner Ribeiro – O Piauí, ele tem... rapaz, o Piauí... Eu já
entrei muito nessa onda de viajar... O Piauí é como se tivesse um grande
diamante bem encravado, bem no meio do Piauí, e por esse diamante estar aí, a
superfície vem toda áspera, vem toda cheia de espinhos, que é próprio da
natureza. Quando tem uma coisa muito preciosa, ela cria mecanismos de defesa.
Daí a explicação dos espinhos na rosa. Se rosa fosse sozinha, ela facilmente
era depredada, né?, pela facilidade de colher. Eu acho que o Piauí, ele tem
essa coisa, ele tem muita coisa que ainda vai ser descoberta. Eu não sei se é
no subsolo... também... ou é... a gente sabe disso... Mas eu acho que no
interior das pessoas tem muito isso. E vamos sair do Piauí. Hoje eu já saí do
Piauí, entendeu? No meu trabalho, esse que eu tô fazendo agora, eu já não falo
mais “cultura piauiense”, eu falo “cultura brasileira”.
Adriano – Mas esse teu CD...
Vagner – ... esse é Piauí, esse é Piauí, é.
Adriano – É... e esse teu trabalho se chama justamente “O
Piauí contando histórias”.
Vagner – ...contando histórias.
Adriano – Foi uma espécie de despedida?
Vagner – É, exatamente. Despedida assim... pelo
contrário, eu não tô abandonando a ideia “Piauí”, eu tô é aprofundando. Eu acho
que pra aprofundar o Piauí em termos de lugar, lugar no Brasil, eu tenho que
falar de cultura brasileira. Acabou de dizer que eu sou piauiense, porque eu
sendo piauiense, eu ainda vou tá puxando “olha gente, olha pro Piauí”. E eu
acho que eu não tô mais nessa. E o Piauí não deve mais pensar assim, entendeu?
Nós estamos em uma federação que tem os mesmos direitos, pelo menos na
cartilha. E é assim que deve ser, então, eu já rodei em muitos lugares do
Brasil, e as pessoas dizem “olha que legal essa música nacional aqui e olha
aqui o regional.” É aquela história que o Alceu Valença fala muito, que todo
mundo ganha prêmio nacional e ele ganha prêmio regional. Nada contra.
Alfredo Werney – Você acha que isso diminui um pouco a...
Vagner – [interrompendo] Não é que diminui, mas eu acho
que é uma questão de educação, eu acho que é uma questão de... de educação que
falta, sabe, conhecimento mesmo. Sabe, quando alguém diz assim “Teresina é
capital do Piauí?” querendo desdenhar, pra mim, dá vontade de dizer “olha,
minha filha, o Acre é longe pra caramba, mas eu sei que Rio Branco é a capital
do Acre (risos), aprendi isso na sexta série, sétima série, é básico isso em
geografia. Então, não venha com essa onda, não, né? Vai estudar. Sei lá, eu
acho que o... é assim que a gente faz. Eu nunca usei o discurso “o povo não
valoriza a cultura”, nunca usei, sabe? Porque eu acho que não é por aí, o povo
valoriza sim, o povo gosta. Agora, nós que produzimos, às vezes, fazemos isso
muito mal. Eu acho que o Piauí, algumas vezes, fez muito mal ao mostrar sua
cultura aí, sabe? Eu vi muita coisa assim... não é por aí. Vou te dar um
exemplo, uma vez eu estava numa excursão de um desses retiros de leis nacionais
aí... e o cara defendendo “ah lei, não sei o quê...” aí um cidadão, um cara, um
dos nós (risos), ele disse “olha porque a cultura do Piauí é a cultura mais não
sei o quê, mais... mais...”, eu fiquei ridicularizado. Não é, cara. Não existe
um mais. Isso é ocidental, isso é uma ideia capitalista, uma ideia de dizer que
“o mais barato ou o maior, o melhor.” Cara, esquece o mais, o melhor, o maior,
faz o bom, daí já vai ser suficiente. Então, a pior coisa que esse cara disse
lá, o músico, e ele falou isso. Até um outro cara, muito simpaticamente, disse
“você conhece a cultura de Santa Catarina?” O cara disse assim, né, pra dar um
toque nele. Como é que ele pode falar que o Piauí é a melhor cultura se ele não
conhece Santa Catarina, ele, certamente, não conhece São Paulo, o Rio de
Janeiro e... é por aí, sabe? Então, eu disse, realmente... Então, não é
defender Piauí, Piauí demais que nós vamos defender...
Alfredo - Bairrismo, né? Você é contra o bairrismo?
Vagner - Nesse sentido aí sim, cara. Quando exagera, acho
que todo exagero, pra mim, ele não serve, não.
[Publicado no jornal Diário do Povo, coluna Toda Palavra, Teresina, 23 de outubro de 2012]
Comentários