[Adriano Lobão Aragão]
Fundada por Mar Becker e Wesley
Peres, e tendo como editores, além de Mar e Wesley, Alexandre Guarnieri, Nuno Rau, Paula Freitas e Viktor Schuldtt, a Revista de Poesia e Arte Contemporânea Mallarmargens (http://www.mallarmargens.com) iniciou suas
atividades na web em abril de 2012, tendo como objetivo aglutinar o melhor da
poesia contemporânea nacional e internacional e propiciar ambiente amigável
para troca de influências e diálogo literário entre os autores, bem como
proporcionar visibilidade aos mesmos e facilitar o contato com o meio editorial.
Envolvendo uma grande quantidade colaboradores, a pluralidade e diversificação
parece ser uma forte marca da revista, embora sempre retome seu motivo
inerente: a poesia. Conversamos com Mar Becker sobre Mallarmargens, contando
com colaboração de Wesley Peres e Adriano Wintter.
Por que Mallarmargens?
"Mallarmargens" surgiu
quando pensávamos no perfil que gostaríamos de imprimir à revista. O termo
alude a Mallarmé e sua poética, da qual se originaram inúmeros movimentos de
vanguarda, incluindo aqueles que existem hoje, como a poesia visual.
Mallarmargens, portanto, sintetiza bem a proposta da revista: abarcar poéticas
contemporâneas, não estabelecer limites (porque as 'margens' se alargam, se
expandem para além do que podemos mensurar)...
Em outras palavras, oferecer um
amplo olhar sobre o que é escrito em poesia atualmente. Ah, e, claro, é um
significante que produz ondas, cheio de ressonâncias: armar, margens, mal, mal
armar (uma ressonância irônica, pois em poesia se trata de bem armar — apesar
que pode ser também armar o mal, como o Maldoror de Lautréamont), gens (o que
remete à gênese), armar as margens da origem, e ainda tem o mar, que é oposto a
margens.
Depois percebemos que esse nome
se relacionava diretamente às vanguardas brasileiras. Augusto de Campos, no
livro "Mallarmé", de Augusto e Haroldo de Campos e Décio
Pignatari (editora Perspectiva), inseriu uma obra intitulada
"Mallarmargem", na qual realiza um trabalho gráfico, compondo uma
foto do poeta francês.
Há algum tipo de direcionamento?
Sim, há direcionamento. O que
queremos dizer é que esse direcionamento não redunda na escolha de uma poética
em detrimento de outras, por exemplo. Existem critérios a que obedecemos na
seleção dos textos, mas esses critérios abarcam – tanto quanto possível – os diversos
segmentos da poética contemporânea.
E a repercussão de Mallarmargens, como tem sido?
Imensa. Na verdade, nunca pensamos que atingiríamos tanto público: as
estatísticas apontam uma média de 3 mil visualizações diárias. Hoje, somam mais
de 80 mil. É um número altíssimo, sobretudo para uma revista que tem pouco mais
de um mês de existência. Foi surpreendente descobrir que, ao contrário do que
supõe o mercado editorial, existe de fato um grande número de escritores e
leitores de poesia, e não só no Brasil – Mallarmargens conta com a colaboração
de pessoas de diversas partes do mundo (Portugal, Estados Unidos, Alemanha,
Reino Unido, França, Angola, Itália, Espanha...), seja com poemas de sua autoria,
seja com traduções de poetas renomados.
E como vocês avaliam a atual cena poética
contemporânea?
Positivamente. Há muita gente escrevendo. A internet facilita o acesso e
as trocas, o que é bom – Mallarmargens surgiu nesse contexto de diálogo
virtual, por exemplo. Talvez pudéssemos falar em 'cenas poéticas', dado que não
há um paradigma estético ou escola/movimento dominante entre os poetas hoje. O
interessante é ver que a qualidade pode conviver muito bem com a pluralidade.
[publicado no jornal Diário do Povo, coluna Toda Palavra, Teresina, 27 de junho de 2012]
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