“Poemas cuaze sobre poezias”




Cleyson Gomes nasceu em Campo Maior, no ano de 1982, mas reside em Teresina desde os sete anos de idade. Além de publicar seus poemas e afins no blog saladapoeticalia.blogspot.com, teve seu livro Poemas cuaze sobre poezias publicado e agraciado com o Prêmio Cidade de Teresina, Concurso Novos Autores, realizado pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves (Teresina-PI). É com o autor desses poemas, ou cuaze poezias, que nesta semana conversamos.


Adriano Lobão Aragão - "Poemas cuaze sobre poezias" é um título bastante estranho, não? Como você chegou a essa construção?
Cleyson Gomes - Pra responder a essa pergunta, irei contar uma historinha. Quando terminei de escrever o "p. c. s. p", mostrei para um colega. Ele, depois de ler o primeiro poema (poemas das 7 fases), disse: "cara, isso é quase poesia!". Eu: "como assim?!". Ele: "parece com o poema do Drummond...". Eu: "rapaz, isso é intertextualidade.". Ou seja, pro meu colega, "esse negócio de poema intertextual e metalinguístico não passa de 'quase-poema'"; e como o livro é intertextual e metalinguístico, resolvi, em homenagem a meu colega, batizar o livro de Poemas Quase Sobre Poesias e "brincar" no/com o título, modificando a grafia das palavras QUASE e POESIAS. O cuaze com "c" e "z" é justamente para representar/materializar o advérbio QUASE – aquilo que é "aproximadamente", aquilo que é "pouco menos" – e o poezias com "z" é a representação de "quase-poesias". Dessa des-construção, ou melhor, dessa "desautomatização da linguagem" nasceu o título "poemas cuaze sobre poezias" que, até então, causa estranhamento. Mas a idéia (em desacordo com o acordo ortográfico) é essa, causar estranhamento mesmo, levando o leitor a buscar novas percepções, sair do rotineiro; pelo menos amenizar os automatismos da linguagem cotidiana. É como diz o Chklovski: "A finalidade da arte é dar uma sensação do objeto como visão e não como reconhecimento; o processo da arte é o processo de singularização [ostranenie] dos objetos e o processo que consiste em obscurecer a forma, em aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O ato de percepção em arte é um fim em si e deve ser prolongado; a arte é um meio de sentir o devir do objeto, aquilo que já se 'tornou' não interessa mais a arte." (CHKLOVSKY, 1971, p.82)

Adriano - A intertextualidade permeia sua obra. Seria essa uma marca fundamental da sua poesia?
Cleyson - Talvez não diria marca, mas uma "pitada". No "p.c.s.p.", sem dúvida, posso dizer que a intertextualidade é uma marca, já nos outros livros (inéditos) a intertextualidade aparece em um ou dois poemas ou até mesmo é inexistente. Cada livro que escrevo, através do processo de "(trans)piração", se diferencia um do outro, ou seja, num livro você vai encontrar o predomínio da metalinguagem, noutro, por exemplo, o "p.c.s.p.", a intertextualidade. Sem falar dos variados temas, como o erotismo, a loucura etc, presentes em meus poemas. Procuro não "marcar" minha poesia, mas dividi-la em "marcas".

Adriano - Como tem sido a repercussão do Poemas cuaze sobre poezia?
Cleyson - Para um autor desconhecido e um país onde as pessoas leem menos de dois livros por ano, até que tem sido boa. Crítica, por enquanto, positiva. Por exemplo, os e-mails que recebo semanalmente elogiando o "p.c.s.p". Tenho vendido livros para várias partes do Brasil – São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Brasília – através do meu blog. Esse livro tem me proporcionado muitas amizades/contatos com pessoas das cinco regiões do Brasil, como o poeta e jornalista Romar Beling, a poetisa gaúcha Daniela Damaris e o poeta Valter Lima. Isso é mais do que gratificante.

Adriano - Qual o lugar da poesia nos dias atuais?
Cleyson - Por ser uma arte minoritária – no dizer do Octavio Paz –, a poesia, creio eu, não só no Brasil, mas em qualquer parte do mundo, está o final da fila. Como o "inútil" não serve, não é utilitário, então acaba não tendo importância para a grande maioria das pessoas.

Adriano - Então, por que razão ainda se escreve poesia?
Cleyson - Vou te responder com uma pergunta. Pra que viver?

Adriano - Tem certeza de que uma coisa implica a outra?
Cleyson - Pra mim, poesia e vida estão interligadas. Vivo intensamente a poesia; poesio intensamente a vida. Certas coisas não se explicam. E o porquê de se escrever poesia... Escrever poesia é "vontade de potência".



[publicado no jornal Diário do Povo, coluna Toda Palavra, Teresina, 10 de abril de 2012]  

Comentários

Anônimo disse…
ótima entrevista. perguntas e respostas dignas de elogio.

sandra
de um ótimo questionário/questionamento elaborado por um grande nome das letras (A. Lobão )não poderia vir respostas distanciadas. Li/degluti o Poesias sobre cuase... Adorei a intertextualidade, deve_se pelo fato de que jogo muito (também) com o intertexto e permeio figuras poeticas como gullar, drummond, ana cristina cesar, exupéry . . . Parabéns para o esclarecido, esclarecedor e ouvintes (leitores).
Abraço aos amigos da terra mafrensina.
Limavalter.blogspot.com
caro amigo adriano lobão.
Gostaria de saber se tem disponivel se livro de poemas "uns poemas".
Gostaria de adquiri-lo.
Caso positivo, responda que te passo endereço e valores em réis para custas.
ALA,

horinha que puder visita
limavalter.blogspot.com

deixe seu precioso comentário.

* tive falando esses dias com cleyson gomes sobre a ideia de 10 autores e uma coletanea. Ja tem 4 loucos na lista do meduna.
Só seriam 11 se uma poetisa se dispusesse a engrossar a fileira e quisesse tomar diazepan conosco.

Que acha?
Valter, valeu pela leitura deste blog. Quanto ao Uns Poemas, a FCMC, que publicou a obra em 1999, informou-me que o livro está esgotado. Infelizmente não tenho exemplares disponíveis comigo. Espero conseguir reeditá-lo em breve.

Quanto à antologia de 10 autores, vamos combinar isso por e-mail: lobaoaragao@gmail.com

abraço, Adriano