A Quinta Capa é uma livraria
especializada em quadrinhos, localizada na rua Senador Cândido Ferraz, nº 1031,
edifício Globo Center, segundo andar, sala 08 (próxima à av. Nossa Senhora de
Fátima). Sobre esse inusitado empreendimento, conversamos com o quadrinhista Bernardo Aurélio.
Adriano Lobão Aragão - Como surgiu a ideia de abrir a Quinta
Capa?
Bernardo Aurélio - Eu havia lançado meu livro
"Foices e Facões - A Batalha do Jenipapo" há poucos meses e ainda
estava com uma boa grana que havia recebido por esse trabalho, mas estava
desempregado. Minha formação é em história, eu poderia correr atrás de escolas
com meu currículo ou investir esse dinheiro guardado em algo que eu gostasse
muito: quadrinhos. Juntar três pessoas com o mesmo objetivo foi o segundo
passo. Entraram na sociedade meu irmão, Caio Oliveira, meu primo, Victor Rolf,
e o amigo Márcio Freitas. Juntamos a grana inicial necessária e colocamos o
projeto em execução.
Adriano - Seria a criação de uma loja ou um
centro de criação? Que tipo de espaço é a Quinta Capa?
Bernardo - Eu acredito que um dos principais
problemas da cultura brasileira seja a questão dos produtores e editores. Penso
que no ramo dos quadrinhos, que eu entendo melhor, o grande problema da falta
de material nacional nas bancas e livrarias seja um problema criado de cima pra
baixo: falta de políticas editorias e de produtores culturais. Infelizmente, o
artista não tem como ser de modo eficiente seu próprio editor/produtor. A
Quinta Capa é uma livraria, mas acima disso ela surgiu como o anseio de um
pequeno grupo de pessoas que querem fazer a diferença. Não queremos apenas
vender revistas. É triste ver grandes e poderosos livreiros, ou donos de
gráficas, pessoas que têm um potencial incrível de fazer a diferença, de
incentivar a criação e se resumem a imprimir e vender coisas dos outros. A
Quinta Capa surgiu como editora e, aos poucos, nós estamos mostrando nosso material
e nossos projetos, não apenas vendendo as revistinhas importadas dos super-heróis
ou mangás. Nós queremos criar. A Quinta Capa é também um produtora e
incentivadora de eventos como a Feira HQ e exibições de filmes e desenhos
animados. É um ponto de encontro e de incentivo à leitura de novos trabalhos,
bem como de valorização de publicações raras, como deve ser todo sebo.
Adriano - Quais as maiores dificuldades
para empreender esse tipo de trabalho em Teresina?
Bernardo - É um serviço novo. As
pessoas não estão acostumadas a livrarias especializadas em Teresina, a não ser
que você procure alguma livraria de artigos e publicações religiosas...
Mas a novidade não é a maior das dificuldades. De fato, muitas
pessoas já leram ou leem quadrinhos. É um público imenso e existem produtos
para todas as seguimentações dele. A maior dificuldade, acredito que
seja acordar esse público, levá-lo até sua livraria e mostrar o mundo
de opções que estão fora das bancas normais, onde costumam comprar seus
títulos preferidos. Diria que esse anúncio e conquista é a maior dificuldade.
Com o boca a boca e as redes sociais vamos ganhando cada vez mais clientes,
buscando ainda a autossustentação junto ao crescimento.
Adriano - Há muito preconceito em relação
aos quadrinhos, como se fosse algo mais ligado ao entretenimento do que à
criação artística propriamente dita?
Bernardo - Eu diria que há um preconceito,
mas não com um tom pejorativo. Um preconceito que existe mais simplesmente pela
desinformação do que por qualquer outra coisa. Acho que superamos esse momento
da história onde os quadrinhos foram considerados sub-literatura ou coisas
assim. De uma maneira geral, podemos encontrar arte no entretenimento e
exemplos de quadrinhos verdadeiramente artísticos. O grande problema é: as
pessoas não conhecem quadrinhos. Conheço pessoas que passam a vida lendo
quadrinhos de super-herói e que não procuram outros gêneros. Hoje eu posso ver
crianças que começaram nos quadrinhos lendo mangá começarem a ler super-heróis.
Não estou querendo dizer que super-heróis seja o próximo passo evolutivo na
leitura dos quadrinhos. Existem interpretações profundas dentro de um gênero de
quadrinhos de super-heróis desde Watchmen, em 1985. O que eu quero dizer é que
existe muita arte real a ser descoberta e a ser criada dentro de uma linguagem
como os quadrinhos. As pessoas ligam quadrinhos ao entretenimento? Qual o
problema disso? Quantas vezes você foi ao cinema só pra se divertir nos últimos
anos? E quantas vezes você assistiu a um filme ou escutou uma música que trazia
aquela coisa profunda ou transformadora que só uma verdadeira arte pode trazer?
Agora, pense bem e me diga quantas vezes você procurou ler uma história em
quadrinhos diferente nos últimos anos? A verdadeira arte é difícil de ser
encontrada, mas ela está por aí.
[Publicado no jornal Diário do Povo, coluna Toda Palavra, Teresina, 27 de março de 2012]
http://www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx?c=3
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