[por Francisco Miguel de Moura]
publicado no jornal Meio-Norte, Teresina, 04 de novembro de 2011
publicado no jornal Meio-Norte, Teresina, 04 de novembro de 2011
Adriano Lobão Aragão, jovem de ar tímido e
ensimesmado, é um poeta talentoso e dele muito se espera. Certamente, dele
muito se ouvirá falar na literatura. No momento, refiro-me ao livro recente, As
Cinzas as Palavras, Edições Amálgama, Teresina, 2009, onde prossegue na sua
linha de aprofundamento nos clássicos - antigos e modernos – e o faz com uma
poética crítica e com sabor de atualidade. Conta com outra roupagem, aquilo de
que a poesia da modernidade mais gosta: a intertextualidade e a intratextualidade,
traduzindo seu mundo em poesia, com discursos e sensações perpassados por
outros.
Cabe aqui uma digressão: Após o advento da obra
póstuma Cours de Linguistique Generale, de Ferdinad de Saussurre
(1857-1913), resultante de cursos dados aos seus alunos A. Ridlinger, Charles
Bally e Albert Sechehaye, a Lingüística torna-se o estudo científico da
linguagem, quando é feita a separação entre língua e fala, sendo esta o ato
individual e, portanto, sujeito a fatores externos, e aquela, um sistema de
valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social
na mente de cada falante de uma comunidade, com homogeneidade. Mas Lingüística
e Gramática não brigam, convivem no mesmo escritor, com sabedoria como faz
Adriano Lobão.
O estabelecimento da Lingüística é o começo da
modernidade poética, os poetas de então ganham novas formas de libertação, não
mais sendo obrigados a simplesmente repetir metáforas e metonímias. O uso de
tudo o que a literatura imprimiu até então enriqueceu o consciente e o
inconsciente coletivos, para as variações mais estranhas, às vezes chegando ao
obscurecimento do discurso. Derivadas da ciência lingüística surgem a intertextualidade
e a intratextualidade, ambas já usadas nos discursos clássicos, porém de
forma disfarçada.
Na poética de Adriano Lobão não faltam intertextualidades
e intratextualidades. A leitura do poema Uns versos (pg.15),
tornam suficientemente claras minhas afirmações: “entre linha limpa
descanso sutil não se desdobra / claro enigma em superfície inerte paz
abandonada / o inexato revelar de obscuras possibilidades” (e segue em todo
o poema). Isto já era comum, no Brasil, a partir da Geração de 45, de
onde vem H. Dobal. Mas, nas suas últimas obras, Dobal parte para uma temática e
um texto mais natural, aproximado da terra e do pensamento contemporâneo de
satisfação imediata. O poema Há ainda este tempo,
que começa o livro de Adriano Lobão, é muito característico do discurso da
citada geração e da geração do Caetano e Torquato Neto, por exemplo.
Encontramos, assim, as causas da proximidade do
signo do historicismo, com outro, o da modernidade, através de seu discurso
interpolado e enfático nas metáforas com metonímias, nas sinestesias com
cenestesias. Tudo isto já existia na poética barroca, como vemos no poema
As odes os signos, de Adriano Lobão, o que não havia era a
sociedade moderna, agora entrelaçando toda a literatura: “estas odes
que aqui se erguem como estranhos obeliscos / emanam como desencanto
louvando o próprio canto / palavra perdida lançada em busca de alheio
signo// este verbo disperso em distante campo de poeira / areia
estéril onde não canta tágide nem musa / estância onde não se encontra
em seus cantos engenho e arte // nem alegre lembrança vestida de
esquecidas ânsias / nem rústico altar profano onde sem música se dança
// aquém dos verbos de outrora além dos versos de amanhã // decantados
em prosa elegia e hino assim recordam / estas odes aqui erguidas em busca de
signo alheio”.
A pequena diversidade na matéria/conteúdo dos seus
livros vai por conta de um estilo maturado na substância história
principalmente. Poemas bem construídos, com cheiro e sabor dos clássicos,
baseados em altas leituras. O autor é professor de literatura, adivinha-se: -
basta que analisemos o mundo de antíteses e paráfrases, referências e alusões,
sem falar na tônica inversões/invenções... Por tudo isto e por muito que não é
possível ser dito aqui, Adriano Lobão Aragão é um dos melhores poetas da geração
Amálgama, deste século XXI, um milenista como diria Herculano Moraes.
Comentários