[por Neto Villa-Rica]
“Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
A vida presente.”
Sábias as palavras de Carlos Drummond de Andrade, foi assim que comecei a me apaixonar por poemas. Nas aulas de literatura do professor Adriano Lobão, via a personificação da poesia, ele declamava com sentimentos, com conhecimento de causa [...] grande conhecedor de arte. Virei fã, mas minha falta de conteúdo não me permitiria ir mais além. E mesmo assim, até onde fui... Aprendi muito.
Participei uma vez até de
uma feira de profissões, o grupo dele falava sobre fotografia, não
poderia perder esse oportunidade de aprender além dos livros. Depois
descobri uma de suas obras, não sei se já foi publicada, e me encantei
com o título: ”Uns Poemas”. Simples e verdadeiro.
Descobri uma melodia legal
no violão e vi que era a chance perfeita de fazer uma letra poética, foi
um grande desafio [...] viajei, me vi perdido em poemas e mais poemas.
Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa me guiaram e compus 75% da
música, só que acreditava inocentemente que ela já estava pronta, e
passei a tocá-la sempre que podia. Enganei-me.
Faltava, um verso, uma
estrofe [...] não saía nada! Pedi ajuda, e logo ela veio. A parte que
faltava, nasceu. Adaptei a melodia e pronto, estava feito a música.
Virou unanimidade, todos gostam dessa bela canção, até eu (Morgana
entende quando falo até eu). O interessante é que logo depois, minha
banda veio a tocá-la ao vivo em varias ocasiões, e a receptividade do
público era legal. Faltou a gente tocar ela no show do hospital Areolino
de Abreu [...] Sim, tocamos lá e fui super legal! ”A galera pirou.”
Hoje essa banda não existe
mais, tempos bons. Tempos de aprendizado, de descobertas e de amor ao
próximo, mesmo ele não estando tão próximo assim. No dia do meu
aniversário fizeram um plano pra me distrair enquanto organizavam minha
festinha surpresa. Bateram no meu ponto franco, levaram-me para o
mirante da Ponte estaiada e lá percebi que talvez eu nunca grave ou ao
menos registre uma das minhas melhores músicas. Mas vou lutar até o fim.
Não poderia chegar aqui, e
deixar tudo às entrelinhas. O título da música, “Uns Poemas”, é uma
referência e homenagem a quem abriu minha mente para literatura e a arte
de um modo geral, Um salve a Adriano Lobão! A parte que faltava
simplesmente não nasceu! Foi escrita, e como muita destreza, por Bruna
Leite. Obrigado pela enorme colaboração, inspiração. Sou um sortudo.
E Carlos disse:
“Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”
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