Aos 83 anos de idade, Gerardo de Mello Mourão (1917-2007), concedeu entrevista ao Balacobaco, na qual falou da convivência com os livros e com a poesia, e deixou, como auto-retrato, o depoimento transcrito a seguir.
Gerardo por Gerardo: "Sou católico, apostólico, romano. Acho que as pessoas de outras religiões têm as mesmas chances de salvação. Sou cearense há mais de quatrocentos anos. Sou casado, fui viuvo. Tenho três filhos, o que acho muito importante, pois creio, como está no Credo de Santo Atanásio, na ressurreição da carne. E os filhos são a prefiguração da ressurreição da carne. Amo as alegrias do corpo e da alma. Mas estou afetado pela tristeza existencial (ou será ontológica?) do ser humano, pois sei, como Léon Bloy, que a maior desgraça que pode ocorrer ao ser humano é a desgraça de não ser santo. Eu não sou santo. Esta é a tristeza medular de minha vida. Pois nasci e fui criado para ser santo e manter intacta a imagem e semelhança de Deus. Tal qual a tinha em meu dia de nascimento, a 8 de janeiro de 1917, em Ipueiras, no Ceará, e na data de meu batismo, quatro dias depois providenciado pelos cuidados pressurosos de minha mãe, no dia 12 do mesmo mês, ministrado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição por nosso primo, Monsenhor José de Lima. Minha mãe era uma pessoa dramaticamente religiosa. Eu tinha um irmão mais velho. Minha mãe leu na vida de São Luís Gonzaga, que sua mãe Branca de Castela, fizera um voto a Deus: queria ver seu filho morto antes que cometesse um único pecado mortal. Quando meu irmão morreu, ela se convenceu de que seu voto o matara. E retirou de mim a promessa terrível. Resultado: estou vivo e fui maculado por quase todos os pecados mortais, os chamados pecados mortais. Quem quiser que os imagine. Etc."
[a entrevista completa pode ser conferida nA Garganta da Serpente]
Comentários