“Minha perspectiva é aquela do Romantismo, que absorve o gnosticismo – é não retornar ao passado, mas criar o futuro.” Claudio Willer


Entrevista com Claudio Willer
por Adriano Lobão Aragão



 
Poeta, ensaísta e tradutor, Claudio Willer nasceu em São Paulo, 1940. Sua obra apresenta forte vínculo com a criação literária desenvolvida pelo surrealismo e pela geração beat. Tradutor de Lautréamont e Ginsberg, dentre outros. Como crítico e ensaísta, colaborou em suplementos e publicações culturais: Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, Isto É, Leia, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Cult, Correio Braziliense, etc; e na imprensa alternativa: Versus, Singular e Plural e outros. Co-editor da revista eletrônica Agulha, também edita o blog http://claudiowiller.wordpress.com/. Doutor em Letras pela USP, com tese defendida em 2008 com o título “Um Obscuro Encanto: Gnose, Gnosticismo e Poesia Moderna”, lançada em livro pela editora Civilização Brasileira. A seguir, apresentamos significativo trecho de entrevista concedida pelo autor sobre o místico labirinto poético ao qual dedicou sua tese. A entrevista completa será publicada na 9ª edição da revista eletrônica dEsEnrEdoS (www.desenredos.com.br).   


 
Adriano Lobão Aragão - O capítulo 1 de seu livro Um Obscuro Encanto tem como título "Gnosticismo: a 'religião da literatura'?". Como se desenvolveu o seu interesse por esses dois aspectos, a tradição esotérica e a tradição literária?

Claudio Willer - Acho que, quanto à  ‘tradição literária’, interesse vem desde sempre. Com uns 20 anos de idade, despertou-se em mim uma vocação de poeta – certamente induzida por leituras e por amizades com outros poetas. Afinidade com surrealismo e simpatia pela geração beat vêm daquele tempo. Quanto ao gnosticismo, essa religião ao contrário, invertendo os grandes monoteísmos patriarcais, há tempos me despertava a curiosidade. E já havia visto autores serem associados ao gnosticismo, por exemplo Artaud por Susan Sontag. Recentemente, achei uma resenha minha de 1987, na Isto É, sobre a coletânea de textos em prosa de Hilda Hilst, Com os meus olhos de cão.  Para minha surpresa (havia-me esquecido) desde então já associava Hilda Hilst ao gnosticismo.  Lautréamont, também, ao escrever sobre ele em 1997 (no prefácio da edição Iluminuras da minha tradução), dizia que ele representava Deus como demiurgo gnóstico em Os cantos de Maldoror.  Minha tese de doutorado, pretendia fazê-la sobre relação de poesia com ocultismo e esoterismo em geral. Quando percebi que o resultado seria de uma extensão inviável, concentrei-me em gnosticismo, que vale como capítulo inicial do esoterismo e ocultismo na tradição ocidental. Pelo resultado – a tese de doutorado e o livro – vejo que foi uma boa escolha.

Adriano - É notório o interesse por temas místicos, incluindo o gnosticismo, caracterizado pelo lançamento de diversos títulos a cada ano. Sabe-se também que bem poucos encaram esses temas com o devido rigor e lucidez que encontramos em Um Obscuro Encanto, por exemplo. Nesse contexto, como tem sido a recepção de seu livro?

Claudio - Não é livro talhado para ter a recepção bombástica de um Dan Brown, por exemplo – a propósito das utilizações mais oportunistas, digamos, do gnosticismo. Além disso, é obra algo pesada – com a primeira parte sobre gnosticismo e história das religiões, a segunda sobre poesia. Pede leitores especiais, exige algo do leitor. Por isso, recepção tem sido lenta – marcada por elogios, é claro – mas firme, constante. A exemplo de outros livros meus que continuam circulando e tendo reedições, permanecerá. Observaria que pode ter frustrado duas correntes ideologicamente orientadas. Uma, a  dos tradicionalistas ou integristas, que execram gnosticismo, por razões óbvias. Outra, as correntes progressistas, que argumentam ser o gnosticismo um cristianismo primitivo – assim atribuindo anterioridade a esse cristianismo mais progressista, legitimando-o. Em termos mais claros: Um Obscuro Encanto não deve satisfazer nem à Opus Dei, nem à Teologia da Libertação...

Adriano - E a quem Um Obscuro Encanto deve satisfazer (ou melhor, encantar)?

Claudio - Ah, essa misteriosa questão, de quem são ou serão os leitores... Se alcançar os leitores de outros dos meus livros – milhares, vários milhares de Geração Beat e das traduções de Ginsberg e Lautréamont, por enquanto meus livros de maior circulação – já estará de bom tamanho. E mais leitores com o mesmo perfil – um perfil bem diversificado. Felizmente, inquietação, sensibilidade poética e vontade de saber mais alastram-se.

[Publicado no jornal Diário do Povo, coluna Toda Palavra, Teresina, 12 de abril de 2011]


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