Baudelaire |
Correspondências
[Charles Baudelaire]A natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam filtrar não raro insólitos enredos;
O homem o cruza em meio a um bosque de segredos
Que ali o espreitam com seus olhos familiares.
Como ecos longos que à distância se matizam
Numa vertiginosa e lúgubre unidade,
Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,
Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.
Há aromas frescos como a carne dos infantes,
Doces como o oboé, verdes como a campina,
E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,
Com a fluidez daquilo que jamais termina,
Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente,
Que a glória exaltam dos sentidos e da mente.
[Tradução de Ivan Junqueira. In: Ivo Barroso (org.), Charles Baudelaire - Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1995.]
"As correspondências de Baudelaire foram um pilar do que houve de inovador na criação poética que o sucedeu. Basta lembrar que os então jovens Verlaine e Mallarmé, ao se declararem seus discípulos em 1865, adotaram essa poética; que Lautrèamont a refez nos 'belo como'; que Rimbaud a incorporou à 'Alquimia do verbo'; que foi invocada por Marinetti em seu manifesto sobre 'palavras em liberdade'; e que seria o fundamento da noção de imagem poética como aproximação de realidades distantes em Reverdy e na lírica surrealista."
Cláudio Willer, in Um obscuro encanto - Gnose, gnosticismo e poesia moderna. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2010. p 317.
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