Entrevista publicada originalmente no blog Goella
HOJE 14 DE MARÇO DIA DA POESIA O PAPO DO GOELLA FAZ UMA ENTREVISTA COM O POETA PIAUIENSE ADRIANO LOBÃO ARAGÃO
Goella: Você diz que sua obra está em constante mutação. Para o poeta, é importante a busca de um novo foco para um novo trabalho?
Adriano Lobão: O trabalho com a criação artística, para ser relevante, costuma lidar com a ousadia de se reinventar constantemente.
Goella: Influências, intertextualidade e releitura são palavras marcantes em sua obra. Um bom poeta é antes de tudo um bom leitor?
Adriano Lobão: Creio que deveria ser. Não como imposição, afinal, na criação artística, ninguém é obrigado a nada. Mas creio que todo escritor sempre deve ler mais e escrever menos, buscando ser o principal crítico de si mesmo.
Goella: Fernando Pessoa diz que "o poeta é um fingidor". Você concorda com esse pensamento?
Adriano Lobão: Toda criação artística lida com algum tipo de “fingimento”. Entretanto, se é fingimento ou confissão, quem se importa? O valor de um poema está acima disso, pois se encontra na linguagem. Como escreveu Drummond, “o que pensas e sentes, isso ainda não é poesia”.
Goella: Você não acha que hoje os jovens lêem os poetas piauienses mais por cobranças nos vestibulares?
Adriano Lobão: Não só os poetas piauienses. Quase toda a poesia lida pelos jovens piauienses limita-se àquilo que o professor trabalha em sala de aula. O que é uma pena, o que é muito pouco para uma formação cultural relevante. Compreender um poema é compreender uma importante dimensão da própria expressividade da linguagem humana.
Goella: Pra você, os melhores poetas são brasileiros ou estrangeiros? Ou não se pode fazer esse tipo de comparação?
Adriano Lobão: Há bons poetas tanto no Brasil quanto no exterior. Entretanto, em relação aos poetas contemporâneos, a produção poética portuguesa requer uma maior atenção do leitor brasileiro.
Goella: Gostaria que você comentasse a literatura piauiense de hoje e como estão as produções feitas atualmente.
Adriano Lobão: Há alguns esforços bem positivos. Admiro a poesia de Sebastião Edson Macedo e Manoel Ricardo de Lima, os contos de Airton Sampaio e M. Moura Filho, os ensaios de Wanderson Lima e Ranieri Ribas, para citar alguns autores de publicação recente. Mas sempre há um longo caminho a seguir. Um grande incentivo para o desenvolvimento da literatura produzida no Piauí seria a existência de leitores mais exigentes, uma crítica literária mais atuante.
Goella: Gostaria que você fizesse um comentário acerca dos seus livros, "Uns Poemas", "Entrega a própria Lança na Rude Batalha em que morra" e "Yone de Safo". E também que comentasse as suas atividades de poeta, professor e editor da revista literária amálgama.
Adriano Lobão: “Uns Poemas” reúne o que escrevi entre 1997 e 1998, constituindo-se para mim o início de uma necessária busca pela maturação poética que ainda não sei se consegui. Como quase todas as obras de estréia, ali estão meus principais defeitos e a gênese do caminho que escolhi seguir. “Entrega a própria lança na rude batalha em que morra” acrescentou uma preocupação com uma simbologia a partir de uma perspectiva histórica e intertextual, bem como um trabalho formal mais apurado. Cada parte de “Yone de Safo” é uma espécie de fragmento de um livro distinto que preferi não desenvolver isoladamente. Daí temos uma primeira parte lírico-amorosa, um certo erotismo, e logo depois uma parte voltada para a metalinguagem com referências bíblicas. Há ainda uma seção com poemas voltados para o nordeste e outra pseudo-memorialista. Enfim, vejo “Yone de Safo” como um caleidoscópio de temas a formas. E é justamente esse caráter multifacetado que me agrada no livro. Tentar equilibrar concisão e dispersão é sempre um desafio interessante. Esse é meu trabalho como poeta. A revista Amálgama foi um esforço em aliar crítica e jornalismo literário. As dificuldades financeiras em manter a periodicidade da revista nos levou aos meios eletrônicos, no qual atualmente edito, juntamente com Wanderson Lima, a dEsEnrEdoS (http://www.desenredos.com.br/).
Goella: E pra encerrar, hoje, no dia da poesia, qual o livro que você indicaria para o leitor do Goella?
Adriano Lobão: A “Ilíada”, de Homero, se quisermos “começar pelo começo”. Leitura indispensável. Admiro bastante a tradução de Carlos Alberto Nunes. A “Nova Reunião”, de Carlos Drummond de Andrade. 23 livro da poesia desse mestre reeditados recentemente em 3 volumes a um preço incrivelmente acessível. “O Tempo Consequente”, de H. Dobal; “Os Peãs”, de Gerardo Mello Mourão; “O Arado”, de Zila Mamede, enfim, minha lista de leituras fundamentais seria enorme. Não conseguiria indicar um livro apenas.
HOJE 14 DE MARÇO DIA DA POESIA O PAPO DO GOELLA FAZ UMA ENTREVISTA COM O POETA PIAUIENSE ADRIANO LOBÃO ARAGÃO
Goella: Você diz que sua obra está em constante mutação. Para o poeta, é importante a busca de um novo foco para um novo trabalho?
Adriano Lobão: O trabalho com a criação artística, para ser relevante, costuma lidar com a ousadia de se reinventar constantemente.
Goella: Influências, intertextualidade e releitura são palavras marcantes em sua obra. Um bom poeta é antes de tudo um bom leitor?
Adriano Lobão: Creio que deveria ser. Não como imposição, afinal, na criação artística, ninguém é obrigado a nada. Mas creio que todo escritor sempre deve ler mais e escrever menos, buscando ser o principal crítico de si mesmo.
Goella: Fernando Pessoa diz que "o poeta é um fingidor". Você concorda com esse pensamento?
Adriano Lobão: Toda criação artística lida com algum tipo de “fingimento”. Entretanto, se é fingimento ou confissão, quem se importa? O valor de um poema está acima disso, pois se encontra na linguagem. Como escreveu Drummond, “o que pensas e sentes, isso ainda não é poesia”.
Goella: Você não acha que hoje os jovens lêem os poetas piauienses mais por cobranças nos vestibulares?
Adriano Lobão: Não só os poetas piauienses. Quase toda a poesia lida pelos jovens piauienses limita-se àquilo que o professor trabalha em sala de aula. O que é uma pena, o que é muito pouco para uma formação cultural relevante. Compreender um poema é compreender uma importante dimensão da própria expressividade da linguagem humana.
Goella: Pra você, os melhores poetas são brasileiros ou estrangeiros? Ou não se pode fazer esse tipo de comparação?
Adriano Lobão: Há bons poetas tanto no Brasil quanto no exterior. Entretanto, em relação aos poetas contemporâneos, a produção poética portuguesa requer uma maior atenção do leitor brasileiro.
Goella: Gostaria que você comentasse a literatura piauiense de hoje e como estão as produções feitas atualmente.
Adriano Lobão: Há alguns esforços bem positivos. Admiro a poesia de Sebastião Edson Macedo e Manoel Ricardo de Lima, os contos de Airton Sampaio e M. Moura Filho, os ensaios de Wanderson Lima e Ranieri Ribas, para citar alguns autores de publicação recente. Mas sempre há um longo caminho a seguir. Um grande incentivo para o desenvolvimento da literatura produzida no Piauí seria a existência de leitores mais exigentes, uma crítica literária mais atuante.
Goella: Gostaria que você fizesse um comentário acerca dos seus livros, "Uns Poemas", "Entrega a própria Lança na Rude Batalha em que morra" e "Yone de Safo". E também que comentasse as suas atividades de poeta, professor e editor da revista literária amálgama.
Adriano Lobão: “Uns Poemas” reúne o que escrevi entre 1997 e 1998, constituindo-se para mim o início de uma necessária busca pela maturação poética que ainda não sei se consegui. Como quase todas as obras de estréia, ali estão meus principais defeitos e a gênese do caminho que escolhi seguir. “Entrega a própria lança na rude batalha em que morra” acrescentou uma preocupação com uma simbologia a partir de uma perspectiva histórica e intertextual, bem como um trabalho formal mais apurado. Cada parte de “Yone de Safo” é uma espécie de fragmento de um livro distinto que preferi não desenvolver isoladamente. Daí temos uma primeira parte lírico-amorosa, um certo erotismo, e logo depois uma parte voltada para a metalinguagem com referências bíblicas. Há ainda uma seção com poemas voltados para o nordeste e outra pseudo-memorialista. Enfim, vejo “Yone de Safo” como um caleidoscópio de temas a formas. E é justamente esse caráter multifacetado que me agrada no livro. Tentar equilibrar concisão e dispersão é sempre um desafio interessante. Esse é meu trabalho como poeta. A revista Amálgama foi um esforço em aliar crítica e jornalismo literário. As dificuldades financeiras em manter a periodicidade da revista nos levou aos meios eletrônicos, no qual atualmente edito, juntamente com Wanderson Lima, a dEsEnrEdoS (http://www.desenredos.com.br/).
Goella: E pra encerrar, hoje, no dia da poesia, qual o livro que você indicaria para o leitor do Goella?
Adriano Lobão: A “Ilíada”, de Homero, se quisermos “começar pelo começo”. Leitura indispensável. Admiro bastante a tradução de Carlos Alberto Nunes. A “Nova Reunião”, de Carlos Drummond de Andrade. 23 livro da poesia desse mestre reeditados recentemente em 3 volumes a um preço incrivelmente acessível. “O Tempo Consequente”, de H. Dobal; “Os Peãs”, de Gerardo Mello Mourão; “O Arado”, de Zila Mamede, enfim, minha lista de leituras fundamentais seria enorme. Não conseguiria indicar um livro apenas.
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