A Imagem

Na primavera de 1962, quase um ano depois de os Beatles começarem a invadir a consciência coletiva da Grã-Bretanha, o historiador e sociólogo americano Daniel J. Boorstin publicou um livro chamado The Image, em que discutia que os meios de comunicação de massa modernos, ao suplantarem a racionalidade da palavra escrita com uma variedade estonteante de imagens gráficas e eletrônicas, estavam comprometendo os valores, as expectativas e a visão de mundo fundamental do público amplo que atingiam. “Estamos arriscados a ser o primeiro povo da história”, advertiu Boorstin, que “conseguiu tornar suas ilusões tão vívidas, tão persuasivas, tão ‘realistas’, que é capaz de viver dentro delas.” Uma característica persistente de The Image foi a identificação de um novo tipo de acontecimento público, que é encenado ou trazido à tona com o fim expresso de ser divulgado pelos meios de comunicação de massa para as massas. Boorstin caracterizou tais ocorrências tramadas de “pseudoeventos” e as enxergava como sinal de uma maré crescente de banalidade e irrealidade nos âmbitos da política, da economia e da cultura. Os principais protagonistas dessa pseudorrealidade burguesa, escreveu Boorstin, eram as celebridades, uma nova espécie de figura pública “fabricada” que era tautologicamente “famosa por ser famosa”. Comparando as épocas passadas, em que a fama era considerada resultado da “grandeza” em atos ou palavras, Boorstin sugeriu que o apelo essencial das celebridades reside precisamente em sua capacidade de personificar e glamorizar o lugar-comum, facilitando assim sua identificação com as pessoas comuns.

[GOULD, Jonathan. Can’t buy me love: os Beatles, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Tradução: Candombá. São Paulo, Larousse do Brasil, 2009. pág 191]

Comentários

Mara Vanessa disse…
Olá, professor!

Muito interessante o trabalho de Boorstin. Te confesso que ainda não conhecia. 'The Image' recebeu tradução por aqui?