De tanto carnaval

[Geovane Monteiro]



No carnaval sempre a mesma surpresa renovada: sorrisos festivos, nenhuma inquietação, a não ser seguir o percurso da avenida. E assim cada cidadezinha acolhe seus filhos com os arranjos carnavalescos. Bem distante dos desfiles das escolas de samba que colorem o sambódromo com artistas e com a grande mídia em global cobertura, dando férias às abordagens dos paradoxos do país. Mas o que me move a escrever desta vez não toca o tamanho de cada festa nem os custeios de cada cidade.

Em Água Branca pude ver o que certamente se vê em qualquer outro lugar, quando o folião já passou dos trinta. Refiro-me à faixa etária da juventude. Mas penso que sempre foi assim, foliões bem moços; o que mudou é que o tempo não me permite mais mascarar a alma com a idade daquele rostinho de menino perdido lá pela década de 1990. Curioso mesmo os meus 32 anos a me fazer maximizar a juventude predominando no carnaval. A juventude, até certo ponto, fazendo os trintões, os quarentões sentirem-se meio descompassados na avenida ao pararem um instante da festa em imaginação. Assim sobra uma avenida feita por aqueles que no dia a dia são apenas ingênuos meninos e meninas.

A mudança do percurso para a Avenida José Miguel não desmente minha mais que teoria, minha continuidade na vida. Se é que todo “coroa” perde tempo em filosofar o que poderia se converter em pura animação de quatro dias de festa. Mas, como disse Caetano Veloso em Dom de iludir: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

Não é que cismei mesmo em achar que as meninas, beijando os garotos que passam, apenas zombam de minha vez de eu também ter sido bem jovem! Os valores não mudaram tanto; o que se alterou foi minha percepção e o jeito desastroso de flagrar pai e mãe tirando foto da filha com o “ficante”, como se o mundo tivesse de ser consumido rápido por sua iminência. E agora não sei se o mais ridículo é eu estar registrando essas ousadias ou me recordando que nunca saía na foto; No passado meus colegas agora cantam: ”pessoas ruins da cabeça e doente do pé”, quando os perco de vista.

Hoje sinto uma inveja necessária desses jovens. Sim, porque enquanto me disponho a ver a garota sustentando o corpo seminu em frevo, em samba-reggae ou o garoto aproveitando o “esfrega-esfrega” da swingueira, quase me iludo numa dose de lirismo, tal qual em adolescente. Esta inveja que me faz embriagar qualquer coisa de alma que já surgiu restante, depositada neste corpo a teimar ver apenas com os olhos, quando amarga o Caymmi no carro de som: “Quem não gosta de samba bom sujeito não é”.

E assim vou suando dentro de minha fantasia de escrever no momento em que a cidade se sacode no batuque dos quatro dias mais agitados do ano. Meninos e meninas pulam e suam no bloco e não há mesmo nada de novo nisso. Apenas agora me escondo em dizer: “no meu tempo...” ao passo que a nova geração sem saber se prepara para quando chegar o “no meu tempo...” respirar sem escrita que não seja a vida atualizada na fantasia de ser.

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