O Prato
[Zila Mamede]
Na casa escura, o prato campinava
dimensão magra de conviva e pasto.
Se lume de candeia refletia,
naquela toalha, o barro inerte branco
uma dor de menino sacudia
as miragens de pão que o habitavam.
Liberta de função a branca rosa
desarvorada lua se fazia
nas cercas, no curral espantamento
em que o menino reinventa reino
onde aboiavam prados. Infiltrava-se
na mesa neutra e vã o medo infante:
os dedos cavalgados por fantasmas
serenamente despedaçam luas.
___________________
In O Arado, 1959.
Pertence Zila Mamede àquela estirpe de poeta que não renega a tradição lírica, não foge da “forma”, ao tempo em que não se submete a ela, mas explora-a, transforma-a em instrumento e não em fim, tal como Carlos Drummond de Andrade (sobretudo em Claro Enigma), João Cabral de Melo Neto, Mário Faustino, Jorge de Lima (magistralmente em Invenção de Orfeu), Cecília Meireles e H. Dobal (A Província Deserta), dentre muitos outros, assim o fizeram. Os sete sonetos de O Arado, em um universo de 19 poemas, refletem menos o que é estruturalmente inerente a sua forma do que a dicção peculiar da poeta, e as sugestivas imagens que seus versos evocam. Publicado em 1959, no Rio de Janeiro, pela Livraria São José, O Arado constitui sua obra seminal, como bem caracterizou Hildeberto Barbosa Filho, em posfácio da reedição de O Arado, pela Editora da UFRN, em 2005: “No âmbito de sua poética individual, O Arado funciona como a obra canônica, na medida em que reflete, mais equilibradas e mais amadurecidas, as experiências do passado. O que vem depois confirma a qualidade de uma dicção lírica singular, mas não ultrapassa os ângulos de irradiação mais iluminados que vêm deste livro/chave.”
[Zila Mamede]
Na casa escura, o prato campinava
dimensão magra de conviva e pasto.
Se lume de candeia refletia,
naquela toalha, o barro inerte branco
uma dor de menino sacudia
as miragens de pão que o habitavam.
Liberta de função a branca rosa
desarvorada lua se fazia
nas cercas, no curral espantamento
em que o menino reinventa reino
onde aboiavam prados. Infiltrava-se
na mesa neutra e vã o medo infante:
os dedos cavalgados por fantasmas
serenamente despedaçam luas.
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In O Arado, 1959.
Pertence Zila Mamede àquela estirpe de poeta que não renega a tradição lírica, não foge da “forma”, ao tempo em que não se submete a ela, mas explora-a, transforma-a em instrumento e não em fim, tal como Carlos Drummond de Andrade (sobretudo em Claro Enigma), João Cabral de Melo Neto, Mário Faustino, Jorge de Lima (magistralmente em Invenção de Orfeu), Cecília Meireles e H. Dobal (A Província Deserta), dentre muitos outros, assim o fizeram. Os sete sonetos de O Arado, em um universo de 19 poemas, refletem menos o que é estruturalmente inerente a sua forma do que a dicção peculiar da poeta, e as sugestivas imagens que seus versos evocam. Publicado em 1959, no Rio de Janeiro, pela Livraria São José, O Arado constitui sua obra seminal, como bem caracterizou Hildeberto Barbosa Filho, em posfácio da reedição de O Arado, pela Editora da UFRN, em 2005: “No âmbito de sua poética individual, O Arado funciona como a obra canônica, na medida em que reflete, mais equilibradas e mais amadurecidas, as experiências do passado. O que vem depois confirma a qualidade de uma dicção lírica singular, mas não ultrapassa os ângulos de irradiação mais iluminados que vêm deste livro/chave.”
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