A Conquista da Honra





A imagem da conquista

[por Adriano Lobão Aragão]

Produzido por Steven Spielberg e pelo próprio Clint Eastwood, A Conquista da Honra (Flags of our fathers, EUA, 2006) não é, essencialmente, um filme de guerra, tampouco a visão americana do conflito em Iwo Jima que se contrapõe a uma visão japonesa apresentada em As Cartas de Iwo Jima (Letters from Iwo Jima, EUA, 2006), realizado simultaneamente por Eastwood. A princípio, poderia ser a reutilização de um recurso que pode ser visto em O Mais Longo dos Dias (The Longest Day, 1962), dirigido por Ken Annakin, Andrew Marton e Bernhard Wicki, abordando o desembarque dos aliados na Normandia a partir dos dois lados em conflito, mas Eastwood quis ir além da mera documentação histórica, da representação/encenação do combate. A Conquista da Honra volta-se para algo maior, mais abrangente e fundamental para a construção da vida contemporânea, não apenas ocidental: o poder da imagem. Essa visão torna-se mais relevante nos dias atuais que em 1944, numa sociedade cada vez mais voltada para a estética iconográfica. É o contraste entre a aparência e a essência, entre o real e o simbólico que interessa a Eastwood. E sobretudo para os propagandistas militares americanos, que precisam de dinheiro para continuar uma guerra que, segundo suas próprias palavras apresentadas no filme, durou mais do que deveria (o que corresponde dizer que "gastou-se mais do que deveria"). Mas, a partir da imagem de seis soldados fincando uma bandeira no alto de uma montanha japonesa, as pessoas estariam dispostas a patrocinar aquela guerra, pois não estariam comprando bônus de guerra do exército, mas investindo em heróis que, com certeza, trariam a vitória. Aquela foto era mais que uma esperança, era uma garantia. A controvérsia das bandeiras, a morte de diversos soldados, a tênue linha entre a homenagem e o anonimato, juntamente com a angústia de Reyes, o soldado indígena, o altruísmo de Doc e o senso oportunista de René nos remetem a uma nova história sobre uma bandeira e seus frágeis personagens, uma história muito mais instigante e sincera que a história oficial, recontada por Eastwood em seu habitual estilo sóbrio e equilibrado, como uma reminiscência do que Hollywood já teve de clássico. Mas há um senão: o final ancora-se excessivamente na necessidade de um narrador, arrastando-se demais. Essa indeterminação de encerrar a película é uma característica recorrente em outros filmes de Eastwood, como A Troca (Changeling, 2008) e Menina de Ouro (Million Dollar Baby, 2004), mas felizmente não chega a comprometer a relevância e a harmonia de suas obras. Talvez porque, acima de tudo, Eastwood é um cineasta necessário.




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