A vitória de Mickey Rourke




O Lutador
Darren Aronofsky
[The Wrestler, EUA, 2008]
Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood
☆☆☆☆

Nesse típico filme de personagem, o que mais interessa é a surpreendente atuação de Mickey Rourke no papel de Randy “the Ram” Robinson (o Carneiro), um veterano da luta livre que conheceu o estrelato nos anos 80 e agora, no apagar das luzes, vive a angústia do envelhecimento, dos problemas financeiros e de saúde, da solidão, sacrificando o próprio corpo em prol da auto-afirmação. Rourke, galã nos anos 80 (9 ½ Semanas de Amor, O Ano do Dragão, O Selvagem da Motocicleta etc), que amargou a sina de astro decadente, inclusive fisicamente, ressurge como concorrente ao Oscar, provando que ainda pode ser mais que o brutamontes Marv, seu eficiente papel em Sin City. Resta saber se é esse o seu limite como ator, em que tantas semelhanças poderiam ser enumeradas entre Randy e Rourke.

Em seu video-game, há o jogo personalizado de Randy “the Ram”; no seu carro, há o boneco de Randy “the Ram”; ícones que ele insiste em tentar passar para novas gerações. E numa cena antológica, vemos o Carneiro entrando no ringue para sua última luta, ao som do Sweet Child O’mine, dos Guns’n’Roses, em um êxtase de redenção como se, naquele momento, lhe fosse possível estar de volta aos anos 80. Mas Randy vive de um passado de glórias soterradas pelo tempo, e, fora dos ringues, não encontra seu lugar no mundo. E há o balcão de frios de um supermercado, onde amargaria seus dias de aposentadoria das lutas, do estrelato, lugar onde não mais deveria ser reconhecido.

O objetivo da câmera é seguir os passos de Randy, num tom quase que documental, e o faz com boa desenvoltura. Entretanto, o roteiro não consegue afastar-se dos clichês de sempre: a conturbada relação com a filha, a possibilidade de um relacionamento amoroso com uma striper que tem um filhinho (outra boa atuação, agora por conta de Marisa Tomei, também indicada ao Oscar), o comovente, mas desnecessário, discurso antes da última luta, e até um amiginho pré-adolescente entra em cena para jogar video-game com Randy. Mas o problema é que, assim como a típica luta livre estadunidense, os acontecimentos trabalhados no roteiro parecem golpes acertados previamente, num jogo de causas e consequências que, embora interessante, não parece fugir do óbvio, e para essa luta de Randy contra o destino que ele mesmo construiu transformar-se em uma obra genial (e não apenas um bom filme) era preciso mais que a tradicional coreografia das telas e dos ringues.
[adriano lobão aragão - 21/07/09]


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