O Curioso Caso de Benjamin Button: Um filme sem magia



O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON: UM FILME SEM MAGIA
por Alfredo Werney


Ontem eu vi – numa tarde vazia, sem nenhuma companhia, num shopping cotidiano e sem magia (como todos os outros) - uma estranha e curiosa estória de um homem que nasceu velho e aos poucos foi rejuvenescendo. Antes mesmo de ver o filme, eu havia consultado um pouco sobre o instigante conto do escritor Scott Fitzgerald, no qual a película dirigida por David Fichner se baseara. Foi surpreendente observar como uma estória tão mágica e interessante se transformou num filme morto e sem magia. Tecnicamente é um filme bem realizado, mas para na técnica mesmo. Por exemplo, sua maquiagem é convincente e bem detalhada – por isso mesmo merecedora do Oscar. Porém, não há na película sequer um plano de natureza poética, de riqueza imaginativa, de impulso criador. Trata-se de uma série de relatos - muitas vezes enfadonhos e repetitivos - sobre o romance de Benjamin com Dayse. Como é que uma película trata de algo tão sombrio e poético, de maneira tão prosaica e ao mesmo tempo sem visceralidade? Realmente não entendi a proposta de David Fichner, que está longe de ser um mau diretor.

O filme deixa de mergulhar no universo poético e denso do personagem Benjamin, para sobrepor relatos pessoais que mais parecem [como bem nos disse Luiz Carlos de Oliveira, da revista “Contracampo”] uma propaganda de plano de saúde. Chega a ser incômodo a insistência de David Fichner em mostrar que toda aquela narrativa insossa está sendo relatada por Dayse – agora já bem velha e agonizando numa cama de um hospital. Aliás, com uma voz ríspida, mal equalizada e, não obstante, kitsche. Como se não bastasse, o filme ainda é narrado pelo próprio Benjamin. Ou seja: parece que o cineasta não se sustenta somente com o discurso de suas imagens - ele precisa colocar dois atores para narrar o que já se está vendo na tela. Repetição da repetição da repetição. As cenas no hospital - onde Dayse narra sua aventura amorosa com Benjamin - poderiam ser retiradas sem o menor prejuízo para a diegese do filme [a observação, mais uma vez, é da revista “Contracampo”]. São cenas gratuitas, sem simbolismos, vazias como o cenário...

E em se tratando de trilha sonora? Nada de instigante e mágico! A música do compositor francês Alexandre Desplat é prosaica e apenas reforça o conteúdo das imagens, e de maneira muito óbvia por sinal. Se John Willians [autor da trilha de filmes que já fazem parte do nosso imaginário cinematográfico: E.T, Tubarão, A lista de Schindler, A cor púrpura, Indiana Jones] tivesse musicado um filme dessa natureza, certamente ouviríamos harpas “mágicas” executando solos, violinos vibrantes, melodias instigantes e incisivas, além de instrumentos que nos ambientariam num mundo da fantasia, num mundo regido pelo realismo fantástico. Poderíamos dizer que o mestre Willians nos colocaria num mundo sonoro kafkiano – disso não tenho a menor dúvida. A trilha do francês não é feia, nem tampouco mal composta, mas é sem pulso e - mais uma vez- sem magia. Aliás, todo filme é assim, sem pulso e sem força criadora. Não se sente ali a presença de um diretor, nem a marca de um estilo fílmico. Como nos disse Cléber Eduardo [revista Cinética], é um filme no qual deixamos de ver o mundo da imaginação e passamos a ver a técnica de sua construção. É um filme SEM VIDA!



Alfredo Werney é professor de Artes e músico. Autor, juntamente com Wanderson Lima, do livro "Reeancantamento do mundo: notas sobre cinema".

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