H. DOBAL, LEITOR DE DA COSTA E SILVA: representação poética e desleitura [Parte06]

__________H. Dobal, ilustração de Adriano Lobão Aragão



H. DOBAL, LEITOR DE DA COSTA E SILVA:
representação poética e desleitura



por Wanderson Lima


[Continuação...]

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS


O caso de tessera que se dá entre os poemas “O Rio” e “O Rio das Garças” ou mesmo entre o livro A Serra das Confusões e a seção “Minha Terra”, de Zodíaco, não se constituem exemplos isolados. No que tange a poemas voltados para motivos piauienses, H. Dobal é um tessarae de Da Costa e Silva. O que não significa dizer que o poeta Dobal engendrou sua poética a partir exclusivamente do diálogo emulatório com o poeta Da Costa e Silva.

O que nos causa certo estranhamento é que, até onde sabemos, o diálogo entre esses dois poetas não havia sido cogitado. Isto se explica, parece-nos, pelo fato de os estudos nesta área terem se concentrado em categorias como dialogismo, intertextualidade e paródia, que pressupõem a ocorrência de marcas lingüísticas comuns entre o texto-matriz e o texto recriado. No entanto, nem toda forma de diálogo entre autores gera similitudes de estilo. A citação, a alusão, a paródia e outros recursos intertextuais não são absolutamente os únicos meios de diálogo entre poetas, embora sejam, mormente na poesia moderna, os mais comuns, como atestam poetas como Lautréamont, Eliot, Pound, Borges e Jorge de Lima. A noção bakhtiniana de intertextualidade oferece ricas possibilidades analíticas, mas não esgota a questão do diálogo entre poetas. H. Dobal é dono de um estilo significativamente distinto daquele de Da Costa e Silva e o diálogo entre aquele e este só pode ser admitido se nos ancoramos numa teoria da influência de base psicológica, como a que Bloom engendra.

Não tivemos, outrossim, intenções de espreitarmos com fidelidade submissa a teoria bloominiana da influência; antes a utilizamos com moderada liberdade. Temos consciência, por exemplo, de que nem H. Dobal nem Da Costa e Silva se enquadrariam no conceito de poetas fortes. Nunca é demais lembrar que Bloom erige uma teoria poética do poético, ambiguizando determinadas passagens com parábolas, metáforas e apotegmas que dão uma margem de liberdade (ou, na pior das hipóteses, de desculpa) para quem utiliza suas teorizações.

Para Nietzsche (1999), um discípulo deve antes ser um rival de idéias do mestre do que um ventríloquo disposto a repetir a verdade deste aos quatro cantos. “Agora vos mando que me percais e vos encontreis a vós mesmos; e só quando todos me houverdes renegado, tornarei para vós” (1999, p. 79) , diz o filósofo pela boca do sábio Zaratustra. Se entendermos discípulo por essa perspectiva, H. Dobal o será de Da Costa e Silva, porque impôs ao poeta de Amarante uma desleitura não desconstrutora mas dialeticamente complementar, cujo resultado estético e o alcance cultural são imprescindíveis para nós.




REFERÊNCIAS

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________ (org.). Teoria da Literatura em suas Fontes (2 tomos). 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
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LIMA, Wanderson. “O Oculto Diálogo: Da Costa e Silva e H. Dobal”. In: Cadernos de Teresina, ano 17, nº 37, Teresina, Fundação Monsenhor Chaves, agosto de 2005, p. 05 – 11.
MORAES, Herculano. Visão Histórica da Literatura Piauiense (3 tomos). 4ª ed. Teresina: H. M. Editor, 1997.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. São Paulo: Martin Claret, 1999.
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SILVA FILHO, Cunha e. Da Costa e Silva: uma leitura da saudade. Teresina: ADUFPI e APL, 1996.
SILVA, Da Costa e. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

Comentários

Anônimo disse…
O H. Dobal é o meu escritor piauiense preferido depois do Torquato Neto....