H. DOBAL, LEITOR DE DA COSTA E SILVA: representação poética e desleitura [Parte02]


__________Da Costa e Silva


H. DOBAL, LEITOR DE DA COSTA E SILVA:
representação poética e desleitura



por Wanderson Lima


[Continuação...]

I. INTRODUÇÃO


Este artigo consiste num estudo comparativo da forma de representação ficcional em H. Dobal e Da Costa e Silva, objetivando explicitar como esses dois poetas entenderam e ficcionalizaram a paisagem física e humana do Piauí. Sem negar o amplo lastro de influência que sofreu o autor de O Tempo Conseqüente ao longo de sua formação literária, procuraremos demonstrar como a sua poética bebeu na fonte dacostiana através de um expediente que o crítico Harold Bloom (1995, 2002) denominou tessera.

O ponto nodal de nossa argumentação é a consideração de que a obra de H. Dobal constitui-se, em grande parte, uma espécie de leitura revisionista (ou “desleitura”, nos termos de Bloom) da poesia de Da Costa e Silva. Dobal, de certa forma, complementa antiteticamente o projeto de uma poesia telúrica – fincada nas raízes culturais e físicas do Piauí – empreendido pelo poeta amarantino. Não se engloba, neste estudo, a totalidade da obra dos autores, mas apenas a parte que tematiza o Piauí (em Da Costa, Zodíaco e poemas esparsos; em Dobal, a 1ª seção de O Tempo Conseqüente, A Serra das Confusões e poemas esparsos).

Representação e mímesis têm aqui sentidos equivalentes e revezamos seus usos de forma mais ou menos arbitrária. Toma-se, sob a inspiração de Costa Lima (1980, 1981), a mímesis poética como alargamento das possibilidades do real, como produção da diferença, e considera-se – em contraposição à redução documental que as interpretações sociológicas, em geral, impõem à literatura – que a força comunicativa e o valor cognitivo da experiência poética advém exatamente da não-identidade entre mímesis e mundo.



[Continua...]

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