amálgama #5 - 2 poemas de Cláudio Daniel



- Publicado originalmente em amálgama #5, agosto de 2004.



CABEÇAS DE FORMIGA


Como este breve sentimento de decomposição, falanges
à maneira
do escuro.
Linha tênue de folhas recortadas
e cabeças
de formiga.
Pétalas roxas,
um tipo de bolor.
Passos escuros
no jardim.
Ritmos podres
de cadela.
Fumo branco,
idéias pesadas
e algo que se desdobra no espaço
curvo
em aromas
de tantálico
negrume.
— Nenhuma música, ali; nada além da carne
dos cogumelos
e seu escarro.

[2003]



VERDE

The eye of the mind — Yeats


O mistério
do verde,

seu sorriso
mineral.

Ver
com olhos

tatuados —
curso negro

do sol,

monólogo
de sombra,

ofício em decúbito
da voz.

Insânia
é o modo
da mente:

ver pelo avesso
do jade,

singrar
da orelha
esquerda

até um par
de seios

que o verde
furor

esquece,
não esquece:

— Lezama Lima
foi um iogue

da luz
mergulhada

em luz.

[2001/02]


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Cláudio Daniel é poeta e tradutor, nasceu em São Paulo, em 1962.
Publicou os livros de poemas Sutra (1992),Yumê (1999) e A Sombra do Leopardo (2001),
além das traduções de poetas como o cubano José Kozer e o uruguaio Eduardo Milán.

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