“A minha vida está toda diluída nos meus livros de ficção”



“A minha vida está toda diluída nos meus livros de ficção”
7.ª pergunta para ASSIS BRASIL



Colégio São Francisco de Sales – DIOCESANO
Prof Adriano Lobão Aragão

Alunos – 7ª série
Alcione Barbosa
Beatriz Moreira
Guilherme Sousa
Maria Clara Melo
Murilo Dias



Um dos mais importantes escritores piauienses, Francisco de Assis Almeida Brasil nasceu em Parnaíba, 18 de fevereiro de 1932. Na década de 40, muda-se para Fortaleza-CE. No Rio de Janeiro, estudou jornalismo na PUC. Em 1956, assume a crítica literária do Jornal do Brasil. Autor de extensa e variada obra publicada ininterruptamente a partir da década de 60, da qual destacamos os romances da Tetralogia Piauiense: Beira Rio Beira Vida (1965), A Filha do Meio Quilo (1966), O Salto do Cavalo Cobridor (1968) e Pacamão (1969).


Quando e por que você decidiu ser escritor?
Desde sempre. Isso quer dizer o quê? Que desde o útero de minha mãe já ouvia as belas canções que ela tocava no seu piano. Arte, literatura, minha vida pré e pós-parto sempre girou em torno disso. Leitura, o fundamental. Sem saber, o escritor estava em formação.

Há alguma característica pessoal nos livros que você escreve?
É claro. É o chamado “estilo”. O estilo é o homem, disse um escritor. Já falaram muita coisa sobre o meu estilo. Me identifiquei com o que um crítico da minha obra disse: uma mistura do sensível com o real, porque o escritor não pode nem fugir de seu dimensão onírica nem de sua condição humana.

Dentre os livros escritos, qual o mais trabalhoso? E o mais prazeroso?
Muitos entre os meus mais de cem livros. Lembro-me de “Tiradentes – poder oculto o livrou da forca”, um romance de vastas pesquisas e muitas horas de trabalho. Com ele, com a execução, paguei um tributo até com a doença. Escrever para crianças é o melhor e o mais prazeroso do meu trabalho, e me descansa do trabalho intelectualizado, cerebral, dos meus ensaios e estudos críticos.

Você reconhece uma história que se aproxime da contada no livro “Os Desafios do Rebelde”?
Todos os meus livros têm uma história real paralela. Muitas vezes, o real empírico é mais contundente do que a ficção. Me acostumei com esse dualismo de criação. Vivi a maior das aventuras do meu personagem Gavião Vaqueiro. Antes de escrever o livro citado, já conhecia o fazendeiro neto dele, problemático, ambos morando em Cuiabá. Em visita ao grande romancista Ricardo Dick, ele me contou parte da história do garoto rebelde, que acabei transformando em livro.

Você já pensou em fazer uma autobiografia?
Não, porque devido à minha imaginação febril, eu iria mentir muito, e não é muito outra coisa o que as autobiografias contém. O escritor não pode fugir da sua imaginação para descer ao chão, muitas vezes vulgar, da sua vida pedestre. Ele está em outra. É claro que a minha vida está toda diluída nos meus livros de ficção.

De onde vem sua inspiração para escrever seus livros?
Para os materialistas, a inspiração vem do córtex cerebral, que contém tudo. Jung falou num inconsciente coletivo. Os espiritualistas têm um elo com o grande enigma, com a divindade. Eu, pessoalmente, acho que a criação artística é algo incomum, cheia de mistério. Uma experiência que é muito mais rica do que a experiência vivida. É o que alguns chamam de vivência: a experiência é da vida, a vivência é a experiência da arte, tão enriquecedora para o ser humano quanto a própria vida.

Você acha que a leitura pode transformar o mundo? De que forma?
Claro que sim. Educação é cultura, é livros, é leitura, em sala de aula ou em casa. Se seus pais não têm o hábito da leitura, quando você adquirir o seu, estimule-os a ler. O mundo está cheio de violência e coisas vãs, e tecnologia sem algo definido. A leitura é o melhor caminho para a pessoa se manter íntegra, honesta, altruísta, fraterna. Tudo isso está nos livros. A leitura, principalmente de livros de literatura, ficção, poesia, abre a imaginação dos jovens e dos menos jovens; e, se está estudando, com certeza será um bom estudante. Educação é cultura através dos livros, o caminho certo para uma humanidade espiritualizada, solidária, feliz. Grandes escritores já falaram sobre a importância da leitura num mundo pragmático, frio e sem valores humanos. Monteiro Lobato, Castro Alves... e, lá bem distante, o filósofo Platão, que recomendava a leitura aos jovens inclusive para livrá-los da marginalidade e do banditismo. E isso foi dito 400 anos antes de Cristo.

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