“Carrego em meu âmago um ser que se redescobre em cada palavra renovada”



“Carrego em meu âmago um ser que se redescobre em cada palavra renovada”
7.ª pergunta para DÍLSON LAGES MONTEIRO


Colégio São Francisco de Sales – DIOCESANO
Prof Adriano Lobão Aragão

Alunos – 7ª série
Laylla Lima
Lorena Magalhães
Thays Eline
Fragne Morais
Amanda Menezes



Dílson Lages Monteiro nasceu em Barras do Marataoã, Piauí, 1973. Edita a revista lítero-cultural entre-textos. Sua obra poética compreende + Hum-poemas (1995), Colméia de concreto (1997), Os olhos do silêncio (1999) e O sabor dos sentidos (2001).


Em quem, ou em que, o senhor se espelhou para seguir sua carreira?
Creio que as condições socioculturais favoráveis, aliadas ao estímulo da juventude, foram fundamentais para que alimentasse esse desejo contínuo de me autoconhecer, esse desejo contínuo de compreender melhor a esfera humana que me cerca – seus valores, seus sentimentos, seu som, seus sentidos. Nesse particular, diria que os estímulos recebidos na adolescência e uma obstinação muito própria, obstinação que carrego comigo desde quando tomei consciência do que queria para a vida, determinaram minha escolha de fazer das Letras não apenas uma forma de sublimar... mas também o meu ganha-pão. Jamais poderia deixar de citar os estímulos do professor A. Tito Filho, quando era ainda um adolescente, e posteriormente de Herculano Moraes. Muito me estimularam para que as portas da motivação fizessem com que acreditasse no potencial da criação. Por isso, digo que me espelho nos bons exemplos... eles foram exemplos para mim, quando ainda descobria o valor da Literatura... Descoberto, espelhei-me em muitos exemplos de grandes escritores. São tantos que não vou citar. Eles me habitam o inconsciente.

De que forma o senhor aprimorou sua escrita?
Costumo dizer que o melhor laboratório para todo escritor é a redação de um jornal ou, se não seja a redação, escrever para um. Comecei a descobrir os sentidos do texto escrevendo sobre Barras, minha cidade natal, em jornais de Teresina, e escrevendo alguns versos sem expressão anotados com o título de “Cadernos de Sonhos”. Eu ainda era um aluno secundarista e muito me lastimo não ter guardado aqueles versos sem som, sem literatura; mas cheios da vontade de aprender.
Comecei literalmente a escrever por volta dos 13 anos. Num belo dia, fui surpreendido, ao abrir as páginas do jornal O Dia, com texto de minha autoria. Estava lá: “Esquecimento”. Professor Arimathéa, que assinava quase diariamente crônicas no jornal e então presidia a Academia de Letras, mandara publicar generosamente. O texto estava horrível; além de transgressões gramaticais, uma paráfrase mal feita do que se dizia sobre a seca, apesar de dito com ênfase e convicção. Não era Literatura, mas começava ali meu desejo de escrever Literatura com qualidade. E assim comecei, estimulado por A. Tito Filho, a estudar Letras aos dezesseis anos e a viver intensamente a palavra e da palavra.
Logo estava publicando em alternativos literários e discutindo textos com escritores de outros estados; isso para mim foi uma grande oficina a que se somou minha experiência de uma década no Instituto Dom Barreto, onde alunos exigentes me provocavam a refletir sobre a linguagem e a ler cada dia mais.
Nessa trajetória, vejo que a cada dia meu texto é outro, tanto estilística quanto tematicamente, porque também sou outro – outras leituras, outras prioridades, outros sonhos. Agora mesmo, depois de só escrever poemas e crônicas (estas inéditas) – não conto aqui obras de cunho didático, ensaístico ou historiográfico, por onde também já me aventurei a escrever e publicar – estou me aventurando com entusiasmo a escrever um romance.
Hoje, vocês mais novos têm muito mais chances do que nós, adolescentes da década de oitenta. E é preciso aproveitar essa oportunidade. Hoje, o jovem pode iniciar escrevendo um blog e, se persistir, encontrar rapidamente o seu “leitorado”.

Por que você escreve?
Para sublimar, para vencer meu inconsciente, porque carrego em meu âmago um ser que se redescobre em cada palavra renovada.

Quando e onde nascem seus livros?
Eles vão se construindo de minhas vivências e pouco posso determinar sobre isso. Apenas sei que não são frutos do acaso.

O que gosta de fazer em seu tempo livre?
Meu tempo livre é curtíssimo. Aproveito para ir a minha cidade natal, onde além do descanso colho matéria literária e me sinto um personagem da história, o que Teresina não consegue me possibilitar. Esta cidade também me estima, mas sobretudo como meu local de trabalho. Não aprecio a tarde diante da tv ou no cinema vendo filmes. Não tenho paciência para isso. Ocupo ainda lendo boa Literatura – o que já faço por vontade ou por imposição pessoal no dia-a-dia; lendo Literatura, seja em livro, seja na Internet. Aproveito também para o contato com escritores e para trabalhar em meu site, que não é propriamente meu.

Quais são seus projetos para o futuro?
Estou editando a coletânea “Adiante dos olhos suspensos” e escrevendo o romance “O morro da casa-grande”. Estou empolgado com a história e às vezes me vejo dentro dela. Segundo alguns críticos amigos, estou acertando na qualidade do texto, que é o mais importante. Espero que não seja apenas mais um livro. Porém, se for, o meu entusiasmo valeu...

O que é necessário para se tornar um grande escritor?
É preciso, sobretudo, vontade de mergulhar nas palavras... Se tiver talento e o sistema literário ajudar, prospera algum dia, se for descoberto. Se não for, ficou pelo menos a satisfação pessoal de ter vivido seu tempo – o tempo de sua palavra.

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