- Publicado originalmente em amálgama #4, agosto de 2003.
[3 poemas de Wanderson Lima]
dói o pássaro – a imagem – no outdoor
e a carícia da motosserra no ipê
dói o adjetivo colhido verde
e jogado ao lixo pelo gatuno oportuno
dói a paz interior de padres & pastores
que antegozam a flor-diamante do céu
dói a volúpia silente dos cartões de crédito
e sorriso do sílvio santos aos domingos
_______________________
O trem partiu com uma falta de fôlego
que me fez frear o frêmito da vida.
Do sol, inchado, tombou chuva de fogo
no chão: só resta flutuar – ou fugir.
E descobrir o porquê da cada casa,
cada curva, cada riso. Extrair
ternura do chumbo, leveza do jumbo:
da gaiola-céu prostituir as aves.
Flutuar, sim! Amar esse magro, amargo
gosto de chuva que chove e dói em mim
e murcha: nuvem açoitando o devir.
Findou o fôlego do trem ou dos trilhos?
Pangarés forcejados por fogo, só bra-
damos sins de areia nas praias do não.
_______________________
SOMOS MISERÁVEIS
Pontes-sem-língua no rio Miséria
engendram a sordidez o suicídio a preguiça.
Aeromoças de museu – órfãs de vôo –
sugam a luz soturna das pedras.
A fé dos eremitas se dissolve na maçã
das horas podres e no escuro do medo.
O mundo solfeja nãos no olho
visguento da agonia : o Homem não
quer ponte de sol nem pranto de mel
Comentários