amálgama #4 - Palaversoesia




- Publicado originalmente em amálgama #4, agosto de 2003.


[3 poemas de Wanderson Lima]


dói o pássaro – a imagem – no outdoor
e a carícia da motosserra no ipê

dói o adjetivo colhido verde
e jogado ao lixo pelo gatuno oportuno

dói a paz interior de padres & pastores
que antegozam a flor-diamante do céu

dói a volúpia silente dos cartões de crédito
e sorriso do sílvio santos aos domingos


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O trem partiu com uma falta de fôlego
que me fez frear o frêmito da vida.
Do sol, inchado, tombou chuva de fogo
no chão: só resta flutuar – ou fugir.

E descobrir o porquê da cada casa,
cada curva, cada riso. Extrair
ternura do chumbo, leveza do jumbo:
da gaiola-céu prostituir as aves.

Flutuar, sim! Amar esse magro, amargo
gosto de chuva que chove e dói em mim
e murcha: nuvem açoitando o devir.

Findou o fôlego do trem ou dos trilhos?
Pangarés forcejados por fogo, só bra-
damos sins de areia nas praias do não.


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SOMOS MISERÁVEIS

Pontes-sem-língua no rio Miséria
engendram a sordidez o suicídio a preguiça.
Aeromoças de museu – órfãs de vôo –
sugam a luz soturna das pedras.
A fé dos eremitas se dissolve na maçã
das horas podres e no escuro do medo.
O mundo solfeja nãos no olho
visguento da agonia : o Homem não

quer ponte de sol nem pranto de mel

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