- Publicado originalmente em amálgama #4, agosto de 2003.
GLÓRIA
[Alexandre Bacelar]
1º Canto
Perde-se um menino à cidade das palavras
E se invade um menino esse pálio de magma
Um mero menino, uma criança, que não caça
Mais que seu gral, pré-fabricado e Santo
Mais que sua salvação
Ou que espalhe seu secreto encanto
À insuperáveis becos de nobreza.
Ave, pálio das palavras
Ave, metrópole, talvez abandonada
Mergulhada, talvez inexistente
Em mares magníficos.
Oh cidade, oh cidade - oh magma
Absoluto magma espargido na Treva
Abstrata lâmina incendrável
Ao simples toque de um menino.
2º Canto
Decai-se um profeta à cidade das palavras
Prosternado e lúcido
Não as quer sob seu jugo
A um profeta nutre navegá-las
Tais palavras preservá-las sobre Eras
Transformadas em Carvalhos de Minerva
Sua aurora converter em transantontens
Por tornar-se em algures imortal
Tal é o preço de um troféu
Irrisório exalando nada
Barro indesfrutável de acalanto
E que no entanto exige a vida inteira
Arriscada sob a névoa
Da baba de Sibila.
Canto Principal
Germina um poeta
Germina um poeta do ventre do século
Do ventre do século XXI
Pouco dado à sutilezas.
Poeta que caminha por sobre os Tempos
Por entre templos de espedaçadas palavras
palavras filhas
Evoluídas ao extremo do Abismo
De paupéries colossais.
“Todas as coisas são palavras minhas
Na boca trago mundos e nos olhos palavras
Ouvi-me.”
Ouvi o que empunha palavras acumuladas de dezessete séculos
Então profetizadas em sua lassa máscara de Jano
Indispensável a um poeta
Também por ocultar
Sob a face idolatrada, sob o Mito
A vil cabeça de um menino.
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