amálgama #3 - 80 anos de arte moderna?

- Publicado originalmente em amálgama #3, maio de 2002.





80 Anos de Arte Moderna?

Após 80 anos da Semana de Arte Moderna, o que temos de poesia e arte moderna? O que o próprio termo Modernismo nos transmite? O questionamento sobre a modernidade, suas manifestações e conceitos carecem de revisões. Neste edição, Aquiles Rique Reis, integrante da banda MPB4, Demetrios Gomes Galvão, poeta, organizador das Edições Klã-Destino, Magnus Pinheiro, jornalista, Ranieri Ribas, poeta e cientista político, Sérgio Dávila, jornalista da Folha de São Paulo, escreveram suas impressões especialmente para amálgama.


Da Semana de Arte Moderna restou-me a transformação e a ousadia da proposta daqueles que a conceberam. A arte no Brasil, como tantas outras coisas, vive de saltos comandados por grupos que antecipam tendências e necessidades. Foi assim com os modernistas, em 22. Foi assim com os tropicalistas, no final dos anos 60. Desses movimentos resultaram mudanças profundas, umas palpáveis, outras inconscientes. Ninguém, seja artista ou consumidor, fica impune diante da proposta revolucionária de mudanças estéticas radicais, concebida por pessoas que, gostemos delas ou não, têm enorme talento e coragem. Precisamos de outros choques de ousadia e experimentação para seguirmos fazendo cultura. Precisamos de pessoas ou de grupos que criem novas ordens, que desconstruam o corriqueiro. Para seguirmos nos alimentando da cultura que engrandece nossa personalidade brasileira, necessitamos encontrar palavras que a personifique.
Saudável é a palavra que muda a direção dos passos que temos a dar. Imprescindível é o movimento que nos mostra caminhos que não sonhávamos existir.
- Aquiles Rique Reis
Músico - São Paulo


Acredito que a Semana de 22 é o marco mais importante da Literatura Brasileira. É onde estão as subversões do verbo, a construção de uma nova semiótica frente as grandes narrativas oficiais. Gostaria que nos anos futuros as pessoas que escrevem dessem continuidade à essa tradição subversiva e que de alguma forma também descubram os meios alternativos e marginais de se escrever, produzir e divulgar seus textos, como uma forma de negar a indústria cultural de massa e a Academia.
- Demetrios Gomes Galvão
Poeta - Teresina


A poesia é a eterna novidade do mundo. Essa unidade do eterno e do novo, aparentemente impossível, realiza-se pelo e para os homens. A poesia é, no meu entender, um advento, um vir a ser do que nunca existiu antes, como promessa infinita de acontecimentos. A poesia está e vai sempre estar presente na vida do homem.
- Magnus Pinheiro
Jornalista - Teresina


A concepção de modernidade na poesia, bem como em toda a estética, significou uma ruptura com a concepção platônica de arte como representação do homem e da natureza. Na poesia, isto reverberou com a poesia comprometida com propostas alternativas de linguagem. Partindo desta idéia, considero a poesia moderna segundo dois aspectos: a metalinguagem e a descrição não evidente de coisas evidentes. A arte de representação, tipicamente platônica e avessa a experimentos com a linguagem, contudo, ainda subsiste. O que esperar deste embate entre reacionários e libertários da linguagem estética? Fertilidade. Acredito que o dissenso é o melhor estimulante para a criatividade. De minha parte, endosso o experimentalismo e a Poiesis, vocábulo grego que deu nome a poesia e que, não por acaso, significa inventar. Poesia é antes de tudo invenção de linguagem. Acredito em nomes como Cláudia Roquette-Pinto, Marco Antônio Saraiva e Jorge Lúcio de Campos. São poetas que primam pela pesquisa, arrenegam o automatismo fácil. A tendência é que a poesia, como a ciência e a filosofia, torne-se cada vez mais uma linguagem para especialistas. Não haverá, no futuro, lugar para poetas diletantes. Será imprescindível para qualidade dos textos criativos que o poeta esteja apto a produzir crítica e tradução.
- Ranieri Ribas
Poeta e cientista político - Rio de Janeiro


A poesia moderna de verdade morreu quando João Cabral de Melo Neto encerrou sua principal produção. Ok, sobreviveu aqui e ali, por exemplo na obra inicial de Ledo Ivo, nos textos de Paulo Leminski e, para não dizer que só falei dos velhos ou mortos, nas boas sacadas do Chacal. Infelizmente, o que vem ganhando mais atenção hoje em dia é uma releitura besta do concretismo dos anos 50.
- Sérgio Dávila
Jornalista - São Paulo

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