amálgama #2 - palaversoesia







- Poemas publicados originalmente em amálgama #2, fevereiro de 2002.


show
[Hermes Coelho]

Eu quero transar no Parnaíba
Ser pego gozando em teu canal
Aparecer naquele canal, e no jornal, e na revista
Ter a minha vida revista e devassada
Eu quero transar no Parnaíba
E aparecer no show da vida
E no show da vida
aparecer
nu

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felina
[Josué Antonio Hernandez]

nenhum olhar triste
continuaria ao receber
teu olhar de lince

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viagem
[Sérgio Batista]

Convido todos à cegueira!
Convido todos...

A não ver o sol
Mas a irmandade das sombras.

A não ver a árvore
Mas o milagre do ninho.

A não ver a terra
Mas o destino dos rastros.

A não ver a escultura
Mas a força do gesto.

A não ver o quadro
Mas a agonia do pincel.

A não ver estas palavras
Mas a divagação da Poesia.

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salão de festas
[Carmen Gonzalez]

gola de marinheiro
costas da manhã

enjôo da alegria


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correnteza
[Noa]

Uma inquietude devasta-me a noite insone:
Até quando durará, em mim, teu fantasma,
se é que ele existe?

Uma dúvida inoportuna espreita-me o desejo,
às vezes, incontrolável de rever-te,
de reverter-te
ou de converter-te.
E o tempo tudo vai desbotando, desfigurando,
esmaecendo-nos, noite após noite.
Enquanto o orgulho faz-me odiar-te,
a solidão faz-me amar-te, compulsivamente.

Sendo eu água,
não conseguiste conter-me.
Banhaste em meu regaço,
mataste tua sede, em mim.
Não sou açude,
sou rio
e corro para o Mar,
O Mar-Mundo-Meu-Mistério-Morte.

Embora me tenha posto,
mansamente, em tuas mãos,
deixaste-me esvair-me por entre teus dedos.
Deixei-te sentir-me de ninguém,
e o azar foi meu,
foi teu,
foi nosso.

Não somos mais.
Fomos,
mas...

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