amálgama #2 - Folia de Perto

Narguilé Hidromecânico, 2002 - foto de Dida Matos

- Publicado originalmente em amálgama #2, fevereiro de 2002



Por Adriano Lobão Aragão

Poeirão é o “carinhoso” apelido do coletivo que faz a linha Teresina – Santa Teresa, povoado a cerca de 20Km da capital. Também é o título do novo disco do Narguilé Hidromecânico e tema da faixa Folia de Longe. O ônibus encontra-se na capa, bem significativa, apesar de a placa dianteira não coincidir com a que se encontra no verso. Questões gráficas à parte, a banda, que conta na sua atual formação com Fábio Crazy da Silva no vocal, Júnior B. no baixo, Márcio Bigli na guitarra, Dj Paulo no toca-disco, Naka na bateria, Flypper e Arnaldo na percursão, é uma das poucas bandas de Teresina que possui público cativo. É o que Fábio Crazy chama em seus shows de “comunidade”. A irreverência continua marca registrada nesse segundo trabalho, gravado no Rio de Janeiro e em Teresina, mantendo as influências de Maria da Inglaterra e Luiz Gonzaga misturadas ao hard-core. “O novo disco está mais sintetizado, mais conciso”, segundo seu vocalista. Essa é a grande diferença em relação ao trabalho anterior, que era fruto de ensaios para o projeto Música do Brasil, resultando no projeto Itaú Cultural, onde o Piauí divide um disco com o Maranhão, tendo como representantes Narguilé e Naeno. Nesses contatos fora do Piauí, destacamos a coletânea Conexão Candango, a ser lançada em Brasília, que também conta com os músicos Teófilo e Nando Chá, ex-narguilé. O Narguilé Hidromecânico estará presente com Maluco Regulão, hit de seu primeiro trabalho, Perseverança de Caatinga e Remédio Caseiro, extraídas do novo disco. O Poeirão tem a distribuição Brasil afora pela Terreiro Discos, do Helder Vasconcelos, integrante da banda Mestre Ambrósio. “O difícil não é gravar o disco, mas conseguir que ele seja bem divulgado e comprado”, comenta Júnior B. A banda se apresenta dia 22 de fevereiro no Sesc Pompéia, em São Paulo e participará de vários programas de televisão, como o Musicaos e o Metrópolis, na TVE. “Não existe a pretensão de sucesso. Nosso compromisso é com o nosso trabalho”, declarou Fábio Crazy. Poeirão é um exemplo claro que na música piauiense existe talento em todos os estilos, sem precisar do marketing das gravadoras, embora o grande público espere pelo aval dessas empresas para comprar um disco como esse. Felizmente ainda existe um circuito alternativo que sobrevive pelo próprio empenho.


Perserverança de Caatinga
Letra: Fábio Crazy da Silva
Música: Fábio Crazy e dj Negralha

tanto faz, de teresina ao rio
a violência é o que faz
a gente andar pra trás,
mas mesmo assim eu rio

há uma alma
cativa em cada cubículo pregresso
garis recebendo salário
pra se livrarem do excesso
mas há no lixo social uma
perseverança de caatinga
e cada lixo retorna ao seu lugar

todos querem agora gozar desse tal ritmo
de gente discriminada
de nordestino raquítico
que entra pelo cano, mas britadeira
nunca foi lambreta de baiano

frito na lata ou paçoca no embornal
o que sai pela boca é o que te faz mal
bala achada na praia
ou perdida no corpo
olha o sopro de vida
que se mistura à dor
e no choro da mulher parida

aí depois tu vai me dizer, que
a gente nunca te avisou, que
toda essa dor que tu sente
é colheita do mal que tu semeou

Comentários

Netto de Deus disse…
Enviei este Amálgama para o Paulo José e para o Cineas.