Publicado originalmente em amálgama #1, janeiro de 2002
Benedito Martins Napoleão do Rego nasceu em União-PI, 1903. Professor, poeta, jornalista e tradutor. Presidiu a Academia Piauiense de Letras. O Cancioneiro Geral, 1981, reúne sua obra poética, composta, entre outros, por Copa de Ébano, 1927; Poemas da Terra Selvagem, 1940; Caminho da Vida e da Morte, 1941 e Prisioneiro do Mundo, 1953. Faleceu no Rio de Janeiro em 1981.
Poemas da Terra Selvagem
1940
Prelúdio
As árvores aqui são tão altas
que as estrelas cansadas dormem nos seus galhos.
E há tanto silêncio nos seus vales
que o sol da tarde pára, admirado, em cima das montanhas.
Os pássaros têm um canto tão bonito
que a madrugada nasce mais cedo para os ouvir.
E a noite é tão clara
que as almas pensam que seja um lago de se banharem.
Há tanta riqueza
que as águas mortas dos pauis brilham de noite
fabulosamente:
é um delírio tão grande como o da febre dessas águas.
A luz, de tão intensa,
atravessa a alma dos meus patrícios:
é por isso que há tantos poetas
na minha terra.
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O Amor
Aqui, o amor
é brutal e violento
como o sol do meio-dia
na posse plena da terra.
É como o sol que seca as fontes.
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Caminhos da Vida e da Morte
1941
Cabem muitos amores
Em cada coração cabem muitos amores,
como todas as cores cabem em nossos olhos
e todos os sons em nossos ouvidos.
Para nós, uma cor e um som apenas
não seriam, com certeza, a vida
mas a monotonia melancólica da eternidade.
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Versículos de Salomão
Eu pensava nas coisas eternas:
na essência da verdade e da beleza.
Eu pensava nas coisas eternas,
quando ofereceste a boca matinal
à sede do meu beijo.
(Como posso, Senhor; recusar, sem soberba,
o fruto macio e orvalhado
que a árvore dadivosa atirou aos meus pés?...)
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Última noite de festa
Ao fim de tudo, na hora serena,
se apagarão os meus sentidos
como lâmpadas de festa.
As sombras entrarão
e a casa ficará vazia...
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