amálgama # 1 - O que esperar de Waly Salomão?


Publicado originalmente em amálgama #1, janeiro de 2002

“Que continue fazendo letras de música, que é a praia dele. Se possível, aprenda a respeitar os outros.”
Cineas Santos
professor e livreiro


“Não se poderia esperar nenhuma postura além de provocativa e instigante. Ele é tudo e nada ao mesmo tempo. Ele não veio ao Piauí com outra cara, é assim em qualquer lugar. Mostrou-se verdadeiro, como ele realmente é, embora nem sempre agrade. Waly é isso.”
Rubervam Du Nascimento
poeta


“O poeta Waly Sailormoon esteve em Teresina para falar, na Universidade Estadual do Piauí, sobre o companheiro de artes e artimanhas Torquato Neto, no dia da vida (9) e da morte (10 de novembro) deste. Ora, Waly Sailormoon não é conferencista, não é acadêmico. Mas colocaram o polêmico rapaz no meio de uns universitários que queriam saber quando o Torquato nasceu, qual o seu primeiro poema, quando ele deu o primeiro beijo, com quem casou, qual foi o primeiro filme, como ele fez o Thiago, em que jornal escrevia, essas coisas que todos os estudantes gostam de perguntar. Coisinha básica. Negócio de cursinho. Escolinha do professor Raimundo. Isso que pode ser encontrado em qualquer manualzinho sobre o Torquato feito por qualquer professorzinho de qualquer cursinho de ponta de rua. E o Waly não está nessa. Está muito adiantado. Suas palavras são disparos intergalácticos. Estão escritas nas estrelas. E a meninada não entendeu nada de nada. E foi aquela algazarra bem estudantil mesmo. Muito barulho. Manifestação contra o Waly que, sem compreender o que se passava, continuava na sua, lançando informações avançadíssimas para o nosso tempo e para o nosso espaço. Waly, para quem tem uma noção pequena que seja da vida e da obra de Torquato, deu o seu recado. Desafinou o coro dos contentes. Incomodou os acomodados. Embora, os macunaímas assim não entendam. Os macunaímas acham, entretanto, que o Waly não é de nada. Enrolou, ganhou a sua grana e foi embora. O Torquato Neto dizia: é louvando quem bem merece que a gente vai deixando o que é ruim de lado. Louvemos Waly Sailormoon, na sua plenitude intelectual. O resto é conversa fiada.”
Kenard Kruel
diretor da Biblioteca Cromwell de Carvalho


“A vinda do poeta Waly Salomão a Teresina no final do ano passado foi uma repetição em tom maior do que aconteceu em 1982, por ocasião das homenagens feitas a Torquato Neto pela passagem dos 10 anos de seu falecimento. Convidado a fazer uma 'conferência' sobre a vida e a obra do escritor piauiense, o baiano tropicalista aprontou mais uma, provocando grande confusão na platéia que foi prestigiar o evento no Laboratório de Artes da Uespi.
Não me interessa de modo algum se Waly recebeu um certo cachê (dizem que foi R$ 2.000), mais passagens aéreas e hospedagem em hotel cinco estrelas, nem tampouco se o mesmo não tenha dito nada misturado com coisa alguma, nem se também após a tão propalada 'conferência', ele não quisesse responder a algumas perguntas de uma assistência, em sua maioria composta por universitários ávidos de novas informações, o certo é que a dita cuja acabou se transformando num vatapá tão comum ao gosto baiano de fazer e de pensar a cultura em seus diferentes matizes.
Parece que o tempo passou por Waly Salomão, mas ele não passou pelo tempo. A idéia de cultura como uma ação carnavalizadora, nos moldes como foi proposto pelo Tropicalismo musical, já não encontra mais eco nos tempos atuais. Creio que se alguém é chamado para dar uma conferência sobre determinado assunto em uma universidade, a pessoa de antemão sabe que se trata de um ambiente acadêmico, com todas as implicações que esta palavra tem como significado social, cultural e educacional.
Foi visível que Waly não preparou nada. E como ele havia assumido o compromisso com os organizadores locais, não teve outra alternativa a não ser tentar que a platéia comprasse gato por lebre. Eu fiquei horrorizado quando, em determinado momento da 'conferência', o velho poeta baiano se recusou a responder uma pergunta de alguém na platéia, num total desrespeito a quem saiu de casa para ouvi-lo falar sobre um tema supostamente tão conhecido por ele.
Achei foi bom. Com tanta gente em Teresina e em outros estados brasileiros com ensaios publicados em revistas, em jornais e até mesmo em livros, sem falar de conterrâneos que têm trabalhos defendidos em nível de pós-graduação em importantes universidades brasileiras sobre Torquato Neto, não faz sentido trazer uma pessoa como Waly para falar sobre as mesmas plumas e paetês, mais de três décadas depois do fim do Tropicalismo.
Já sei. Vão dizer que eu fiquei careta e que a minha postura é provinciana. Também pudera. Quem mandou eu mexer em casa de marimbondo de fogo?”
Chico Castro
poeta

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